quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Conversas soltas


Pedro Villa


[Secção conversas soltas, com a devida licença para partilhar]

- P. Paulo, não sei como falar disto. Se bem que tenho a agradecer o comentário com um abraço que deixou no texto em jeito de desabafo da actriz Inês Herédia. Daí o à-vontade que sinto em poder falar consigo. É toda uma novidade e como mãe e como católica estou a ter dificuldade em lidar com isto, sobretudo na questão da Igreja. A minha filha revelou-nos a sua homossexualidade. Ela está bem. Sempre senti algo diferente. Ela está mesmo bem. Eu é que tenho dificuldade em compreender tudo isto.

- O quê mais específicamente? O que lhe custa?

- Nem sei. Porque acolho-a profundamente. Nem poderia ser de outro modo. Já tinha ouvido falar de pais que rejeitam os filhos pela questão da sexualidade. Da minha parte, nem pensar. Saiu de mim. Mas não sei o que me custa.

- Serão a expectativas que tinha de futuro? Poderá haver alguma sensação de culpa por achar que falhou nalguma coisa? Digo isto, pois é o que vou escutando aqui e ali de pais com filhos ou filhas de orientação homossexual.

- Não. Sabe o que é mesmo? Estou zangada com a Igreja. [As lágrimas surgiram!] Isso, estou zangada com a Igreja. Sinto agora na pele imaginar que a minha filha não pode viver o amor. Sim, já li o catecismo e toda essa linguagem descartada da realidade. Desculpe falar assim, mas tenho a sensação que a doutrina não conhece as pessoas. 

- Como a compreendo. Idealizam-se perfeições e castidades, esquecendo o corpo real mais vasto que as ideias. E no tema da homossexualidade e da fé, bem como em muitos outros, há tanta falta de escuta, atenta, cuidadosa, das pessoas concretas, dos seus sentires mais profundos, impondo o impossível. Há tanto desejo de Deus que acaba por ser ofuscado pela zanga, tantas vezes com razão, por visões alheadas do concreto, das pessoas reais e não idealizadas.  

- Sim, sim. Mas, que podemos fazer?

- Estamos em tempos de reflexão sobre a Igreja. Porque não se junta a tantos outros pais preocupados com a mesma questão e escrevem a partilhar o sentir? Dessa zanga pode surgir conversão, vida, em maior respeito. E o amor fica sempre a ganhar.


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