sábado, 31 de março de 2018

Vive-se Passagem



[Secção outros tons especial noite da Vigília] Junta-se a esperança à fé. Aquecem-se em lume novo, anunciador da Vida que arrebata todas as trevas. Vive-se Passagem.

Pés doridos de caminho



[Secção outros tons especial Sábado Santo] Pesa-me a cabeça sobre os ombros. Afastei a cara, incrédulo, quando estavas erguido como sinal. Entre culpa e desilusão, não sei dar nome ao que realmente sinto. Em ti depositei todas as esperanças, pelas vezes que me fizeste acreditar mais em mim, pelas vezes que me fizeste acreditar na humanidade, apesar de todas as injustiças. Conseguias ver longe, muito longe, sobre cada pessoa. Nos pés doridos de caminho, atravessa-me a recordação da delicadeza das tuas mãos enquanto neles caía a água. 

sexta-feira, 30 de março de 2018

Chegou a hora



[Secção outros tons especial Sexta-feira da Semana Santa] Gritos. De bestial a besta a eliminar. Escorrem lágrimas de dores silenciadas pelo desespero. É tomada a última liberdade: a vida. Chegou a hora.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Faça-se!




[Secção outros tons especial Quinta-feira da Semana Santa] A luz vai-se apagando e dá lugar ao silêncio. A história re-contou-se em nova liberdade anunciada. Os pés foram lavados. Os salmos cantados. O pão ázimo comido. O vinho da bênção bebido. O cordeiro está pronto. São as oliveiras, em recordação da paz, que acompanham a angústia do cálice a beber. “Faça-se!” Em tempos longínquos, fez luz. Agora, repetindo o dia do Anúncio, faz a vontade. 

quarta-feira, 28 de março de 2018

Trinta moedas



[Secção outros tons especial Quarta-feira da Semana Santa] Trinta moedas escrevem o destino de traição em pão molhado. Minuto-a-minuto, todas as capas sairão até que o véu se rasgue na totalidade, completando a Passagem.

terça-feira, 27 de março de 2018

Da solidão à esperança da existência



João Ferrand

[Secção reflexão para Semana Santa] Escrevi "Da Solidão à esperança da existência" há tempos e foi publicado no início do www.pontosj.pt. Trago-o até aqui. Parece-me adequado para esta Semana.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Nardo puro e a hora



[Secção outros tons especial Segunda-feira da Semana Santa] O nardo puro faz estremecer a hora que chega. Os amigos encontram-se e recordam que Deus cria a Luz. Também sabem que a liberdade exige a travessia da sombra da injustiça. Há aromas sem comércio, nem troca. O amor foi, é e será sempre gratuito. 

domingo, 25 de março de 2018

Silêncios de Jesus



Zachary Law

[Secção pensamentos soltos em Domingo de Ramos] Os silêncios de Jesus ao longo do relato da Paixão chamaram-me a atenção. Jesus não quer que ninguém tenha pena d’Ele. Jesus não necessita de se justificar. Jesus não entra no jogo do diz-que-disse. Quando se quer que se tenha pena de si próprio, fala-se muito, gritando-se mesmo, em ferida: “Estou aqui, vejam-me, cuidem-me, dêem-me atenção!” Jesus, na dignidade que o caracteriza, encontra a serenidade do silêncio. Quem realmente o conhece, não pode condenar nenhuma das Suas obras. São os seus gestos e palavras de acolhimento, por um lado, e de denúncia de injustiça por outro, de toda sua vida que justificam o ser quem é. A divindade não é etérea, é encarnada no Bem da e pela Humanidade. As poucas palavras e os muitos silêncios que encontramos na Paixão convidam-nos à simplicidade, evitando o ruído das outras muitas palavras mal gastas em condenações injustas. Entramos em Semana Santa… que convida ao silêncio e à reflexão: que ruídos meus tenho de enfrentar, deixando a necessidade de me justificar, tornando os meus gestos e vida mais autênticos?


quarta-feira, 21 de março de 2018

Em dia da Poesia



[Secção outros tons em dia da Poesia e início da Primavera] Silêncio: deixe-se iluminar a vida pela palavra com Corpo.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Dia de S. José e do pai



Alexandros Avramidis/Reuters

[Secção pensamentos soltos em dia de S. José e dia do pai] José vive durante a noite a sua Anunciação. Aquele sonho transmitiu luz na grande confusão da vida do homem de que não se conhece a voz. As suas palavras omitidas em texto bíblicos são repletas de gestos, em atitude de confiança e acolhimento do mistério da criança que será portadora de mudança na humanidade. Ser pai tem esse lado de mistério. Tudo muda. Tudo, mas tudo, muda. Mais do que ter um filho ou uma filha, transforma-se a essência: torna-se pai. Em mudez de palavras, sem viver o lado interno da gestação de alguém, simbolicamente é a força da protecção. A noite ganha laivos de dia no acompanhar do crescimento do novo ser. Também na maternidade. Isto de não haver na humanidade blocos ou de cor ou de branco ou preto, faz-me pensar nas milhares de mulheres que tiveram também de ser pai. Ou nos pais que tiveram também de ser mãe. Cada um de nós é fruto da relação, seja qual for. No entanto, felizmente, não é imutável em caso de tristeza ou de desilusão sobre a figura paterna. Aprende-se muito com a presença e há que agradecer, e muito, os “melhores pais do mundo”. Igualmente se aprende, mesmo que com inevitável dureza, com a ausência, sobretudo quando esses pais são o invés da segurança depositada ou esperada. Seja como for, se cada um de nós aqui está e é, tal deve-se aos progenitores que, com mais ou menos amor, nos deram existência. Para quem este dia é de alegria e reconhecimento pelo pai que tem, é de agradecer. Para quem este dia possa trazer recordações mais tristes, também é de  agradecer, por exemplo, a possibilidade de não dar continuidade à tristeza, à dor, mas à certeza de que o amor de Deus Pai (e dos padrinhos, igualmente reveladores de paternidade) nunca abandona. A Anunciação a José deu-se à noite, recebendo luz que lhe permitiu, apesar de toda a confusão de sentimentos, ir-se abrindo ao mistério de amar em paternidade.

domingo, 18 de março de 2018

Em acção pela dignidade



Leo Correa/AP


[Secção desabafos] Assassinar alguém pelas suas ideias é acto de grande cobardia. A força da vítima ofusca a fraqueza de mente do assassino. Diante de vil acto, não interessa qualquer cor política ou religião. A humanidade morre mais um pouco pelo assassínio e pela cegueira do poder. Ressurge o sentido de martírio, em testemunho de sangue que fortalece o desejo de justiça pela dignidade humana. Não adianta responder com violência. A melhor resposta é a de que cada um se torne construtor de paz, no respeito que vai para além de cor, credo, sexo e sexualidade. Isso é exercício diário e quotidiano.

sábado, 17 de março de 2018

Fátima



[Secção pensamentos soltos] Fátima, no seu silêncio e burburinho, traz-me sempre vontade de encontro: em cada canto há marca de milhares de pessoas que ali passaram em busca de liberdade. Lia há dias que a humanidade rodeia-se de ficção. Incluíam a fé. As vidas humanas não são ficção, o sofrimento também não. Apesar das necessárias perguntas para não entrarmos em cegueira religiosa, há locais que, pela marca de tantas histórias, recordam a realidade da fé. Mesmo na mistura de silêncio e burburinho.

sexta-feira, 16 de março de 2018

quinta-feira, 15 de março de 2018

Momentos




Francisca Dias


[Coisas na vida de um padre] Recebo o registo de um momento hilariante de pendura-costura-corta-prende no bonito projeto Tecer Afectos, juntando poesia e muitas mãos a tricotar histórias. Haja animação!

segunda-feira, 12 de março de 2018

Semana Inaciana 2018




[Coisas na vida de um padre] E eis que estamos na Semana Inaciana. Tanto a acontecer. Aqui, os alunos em momento coreográfico na abertura. Toda uma animação.

terça-feira, 6 de março de 2018

Aviões e Jesus




[Coisas na vida de um padre] Já está no meu gabinete mais um incentivo para a Jesuit Airlines. Jesus caminhou sobre as águas. Obviamente que também caminha sobre os aviões. Que ideias animadas! Haja aviões e haja Jesus! Obrigado, A e T.

Ecos da oração



[Ecos de oração, em tempo de Quaresma]

segunda-feira, 5 de março de 2018

Para além do humano



Fotograma de “Men against fire”

[Aula com alunos de 12.º ano] Há umas semanas dei-lhes a ler o artigo “Para além do humano”, da National Geographic de Abril de 2017. O artigo aborda sobretudo a evolução científica em biotecnologia, como, por exemplo, as pessoas com implantes que ajudam a ver ou ouvir melhor. Também alerta para os perigos… nomeadamente militares. A realidade do famoso filme Robocop já esteve mais distante. A propósito disto:
- PPP [como me chamam, sigla para professor padre Paulo], será que não podíamos ver um episódio do Black Mirror?
- Francisca, é a série que me falaste logo após a aula do artigo, não é?
- Sim, sim. 
- E isso é de se ver numa aula? [Risos matreiros!] Hmm, é demasiado violento? Tem sexo? [Gargalhada deles.]
- Ah, uma ou outra parte mais…
- Hmm, uuuu ahhh, não quero que digam que se anda a ver destas coisas numa aula de Religião e Moral!! [Mais risos]
- Bem, como confio em vocês, vamos ver.

E ainda bem que vimos. O episódio que escolheram, “Men against fire”, está muito bom para se falar da liberdade, da selecção que se faz de pessoas, até mesmo do religioso, de como podemos ser altamente influenciados, mesmo que não tenhamos ainda implantes implantes cerebrais, de como isto já aconteceu e acontece em muitas sociedades. Uma forma refinada de busca de arianismo. Aproveitei e falei-lhes do “determinismo” facebooquiano e das redes sociais. Para podermos caminhar para a liberdade, temos de conhecer, aprender, ler, educar o pensamento e a emoção, dialogar, para abrir os horizontes. Como somos influenciáveis, quem apanha uma sociedade desprevenida e ignorante consegue “implantar” desumanização e confusão. A ignorância é uma grande inimiga da humanidade.

domingo, 4 de março de 2018

Travessias




Fotograma do filme Dez Mandamentos.


[Secção pensamentos soltos] Sempre que paro no livro do Êxodo, nomeadamente na passagem dos Mandamentos divinos, recordo o épico filme de 1956, dirigido por Cecil B. DeMille. Nalgumas tardes, sozinho em casa, deixava correr a VHS do filme, com risquinhas de gasta. As quatro horas de filme preenchiam-me as medidas. As imagens que ainda tenho do resgate de Moisés no rio, do encontro na Sarça Ardente, do confronto com o Faraó e as muitas pragas, do Povo a ser liberto, da famosa travessia pelo Mar Vermelho enxuto, do dedo divino a escrever nas tábuas as orientações de liberdade surgem-me a partir das do filme. Nem sonhava que mais tarde iria estudar a riqueza teológica destas passagens. Os mandamentos são pensados a partir da liberdade. Há muitas coisas que oprimem, que impedem a liberdade, às quais damos mais destaque e peso do que imaginamos. A liberdade implica travessias. Não é um automatismo. Atravessar feridas da história, medos e animosidades nas relações familiares e profissionais é um processo de libertação a ser vivido com muita verdade consigo próprio. O mais fácil é criarmos deuses que abafam esse caminho de autenticidade: o deus Agora-Não, o Agora-Não-Tenho-Tempo, o Ah-Isso-Não-É-Comigo, o Isso-É-Coisa-de-Fracos. Depois, há ainda os deuses dourados: a deusa Comparação, o deus Falta-de-Agradecimento, o deus Poder, o deus Dinheiro. Mais do que a grandiosidade da travessia do Mar Vermelho, há que abrir os braços e viver aa Travessia da nossa Vida, também em momentos de deserto, para encontrar a liberdade.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Breve oração



Noel Y. C.

[Breve oração antes de adormecer] 

Agradeço-Te o Inverno. Recorda-me a necessidade de recolhimento e pousio, na escuta da terra que recupera forças em cada gota de chuva, preparando-se para as sementes de vida nova.

Peço-Te: ajuda-me a não esquecer a terra que sou na Terra que somos.


quinta-feira, 1 de março de 2018

Diálogo e esperança



[Secção pensamentos soltos] Voltei ao passeio em silêncio. A conferência de hoje foi desafiante: a importância do diálogo. Tanta falta faz na actualidade, entre gritos de imposição e de certezas. Afinal, no diálogo há que estar disposto a mudar de perspectiva. Ao passar pelo mesmo lugar de ontem, reparando na força do verde escondido pelo manto branco, pensei nas mudanças, nas necessárias conversões a viver para perceber que o que faço de bem ou de mal tem efeitos extensivos à humanidade. Sendo cada um de nós humanidade toda, os gestos têm densidade criativa do melhor ou do pior. As imagens que chocam podem ser castradoras, sobretudo pelo efeito anestésico de banalização ou de impotência, levando ao desânimo. Para que não o sejam, mais do que replicar, neste momento o melhor que posso fazer é tornar os meus gestos, as minhas palavras, o meu coração, em Bem comigo mesmo e, em consequência, com o próximo. Não podendo acabar com os conflitos lá longe, faço o que me é possível para acabar com os de perto. Dando vida ao próximo, dá-se um pouco de vida e esperança a toda a humanidade.