As férias são uma pausa, não uma fuga. Para serem bem gozadas, não podem trazer novas correrias, mais aturdimento, sobretudo têm que permitir um reaproximar da vida comum de maneira a que o regresso não seja contrariado, mal humorado, a olhar com azedume mais um ano preso àquelas rotinas.
As férias devem servir para fazer as pazes com o nosso dia-a-dia. Sacudido o cansaço, livres das tarefas, com tempo para flanar por onde queremos e quando nos apetece, é natural que se comece a pensar que vai saber bem reencontrar o nosso canto, ver as caras de todos os dias, bater à porta do colega do lado "então bom dia! Que lindo sol está hoje, da sua janela vê-se o rio!"
As férias não são uma ruptura, um artifício intercalar e enganoso numa rotina. São uma continuidade, uma forma de ganhar força e ânimo para viver com alegria os compromissos, os horários, a atenção para os outros. Mas também o gosto de fazer um trabalho bem feito, de saber que precisam de nós, que com o nosso esforço e talento podemos fazer a diferença. Ali, no nosso trabalho, na nossa vida de todos os dias, no centro do nosso tempo.
Irritam-me um bocado as pessoas que querem encafuar em poucas semanas o que não puderam fazer num ano inteiro. As férias são para saborear, para apreciar devagarinho, dia a dia, sem pressas, até termos saudades de voltar ao ritmo do costume. Nas férias, temos que sentir passar os minutos, o tempo tem outra dimensão, cada dia tem a sua densidade e divide-se em manhã, tarde e noite. Assim mesmo, devagarinho.
Já tenho saudades do meu trabalho, dos meus amigos, da minha actividade toda, tenho tido umas óptimas férias e já consigo apreciar de novo o muito de que disponho ao longo de todo o ano.