quarta-feira, 4 de julho de 2007

O Thyssen de Belém

"Não se deve começar um artigo com uma citação. Mas penso que vale a pena recordar a mensagem da Presidência da República sobre o acordo celebrado entre o Estado português e Joe Berado. Vão encontrar um documento que levanta uma série de dúvidas legítimas sobre o acordo celebrado entre o Estado e o empresário madeirense.
(...) O que se passou na segunda e na terça-feira no CCB estava escrito nas estrelas. A Presidência da República tinha alertado, os juristas do Ministério da Cultura também e no CCB cheirava a esturro há muito tempo. Mega Ferreira tinha sido claríssimo numa entrevista que deu à TSF há alguns meses: a colecção é boa, deve ficar em Portugal mas o CCB não é o sítio certo para a expor. Foi isto que ele disse na altura.
Quando se entra nos pormenores jurídicos ou organizacionais ficamos ainda mais surpreendidos: a coexistência de duas Fundações no mesmo espaço é uma aberração jurídica e está condenada a eternizar um conflito. Mega foi a primeira vítima mas haverá mais. E, em bom rigor, Mega devia ter sido mais consequente e sair do CCB. Porque o CCB deixou de existir para dar lugar ao Centro Berardo de Belém. A triste história das bandeirinhas que esvoaçam na entrada é exemplar. Berardo queria bandeiras, Mega não. Berardo ganhou e vai ganhar sempre. Neste negócio Berardo pôs o Estado de gatas porque sabe que a sua colecção é muito boa (graças a Francisco Capelo, que soube fazer e entretanto se zangou com Berardo e zarpou para outras paragens) e que Portugal não podia arriscar perdê-la. A colecção Berardo é demasiado boa para se manter no exíguo espaço que tinha em Sintra. Mas podia ter ocupado um dos muitos edifícios do Estado ou da Câmara de Lisboa que se estão a degradar ao desbarato. As obras num edifício digno seriam pagas muito depressa pela receita do novo Museu. Não só se ficava com um edifício restaurado como se criava um novo polo de atracção na cidade de Lisboa, coisa que Belém já é pelo Museu dos Coches, pelos Jerónimos, pela Torre de Belém, pelo Padrão dos Descobrimentos, pelos pastéis e pelo CCB.
As críticas de Pedro Lapa, director do Museu do Chiado, foram certas e nada azedas. Ele tem razão em ficar apreensivo quando vê o Estado dotar anualmente a colecção Berardo de meios financeiros para continuar “às compras”, enquanto muitos museus (quase todos) não têm dinheiro para comprar nada.
Portugal precisava do Museu Berardo, como Berardo precisava de Portugal porque só cá é que é Rei. O museu devia ter sido feito noutro espaço porque o Centro de Exposições do CCB faz falta ao País e desapareceu na segunda-feira. O CCB foi entregue a uma pessoa. Segue-se o Estádio da Luz. Berardo quer ser o Thyssen de Belém, o Abramovich da segunda circular, o Mondavi do vinho português."

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1 comentário:

  1. Excelente post, gostei imenso, é sentido e inteligente. Mas não é o CBB,é à mesma o CCB (Centro Cultural Berardo, ele deve ter pensado que a manutenção da sigla tem muito valor. E tem.

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