sábado, 31 de julho de 2021

Santo Inácio de Loiola



[Breve oração em dia de Santo Inácio de Loiola]


Agradeço-Te

atravessares todas as feridas, quando Te abrimos o caminho, e de cada uma tirares Vida, permitindo ver tudo com nova luz.


Peço-Te

conhecimento íntimo do Teu amor, para que, tal como fizeste em Inácio, possa amar e servir com toda liberdade, memória e entendimento, neste mundo concreto, pondo-Te sempre no centro.


sexta-feira, 30 de julho de 2021

The Chosen


Tenho estado a ver a série The Chosen (Os escolhidos) sobre a vida de Jesus e dos seus discípulos. A série está a ser realizada apenas com os contributos de milhares de pessoas, em crowdfunding. Já tem duas temporadas. Estou a meio da segunda e os episódios têm muita qualidade, dando muito de vida e compreensão aos Evangelhos. Aconselho vivamente. Pode ser descarregada em app The Chosen ou vista desde o site: https://watch.angelstudios.com/thechosen


quarta-feira, 28 de julho de 2021

Baptismo da Gabriela



Lívia Castro


[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dias bonitos. Este momento do baptismo da Gabriela, em que me agacho e digo-lhe:

- Gabriela, vou ler algumas coisas para os pais e os padrinhos.

- Está bem.

- Queres ajudar-me?

- Eu não sei ler. Não vês que ainda sou pequenina? 

Gargalhada geral e seguimos na celebração. 


domingo, 25 de julho de 2021

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

os caminhos de terra e céu,

de coração e cabeça,

de ontem e hoje,

a envolver o eu, o eu e o nós.


Peço-Te

liberdade para peregrinar

os passos de paz e vida

até Ti


quinta-feira, 22 de julho de 2021

quarta-feira, 21 de julho de 2021

A Palavra transformadora



Rita Rocha


[Secção pensamentos soltos] Nesta foto preparava-me para proclamar o Evangelho. Estou no ambão a fazer o sinal da cruz. É, como noutras partes da Missa, um momento solene. Desde há muito que tenho por hábito fazer uma inspiração e expiração profundas, marcando o registo da presença, sentindo fortemente os pés assentes em terra. Aqui e agora. Aquela Palavra não é minha. E, depois, quando me preparo para a consagração, faço o mesmo. Aqui e agora. Aquelas Palavras não são minhas, mas de Cristo.


A responsabilidade é grande ante aquelas Palavras. Tal como tem sido ao longo dos tempos, a orientar retiros, a rezar, a permitir que a Palavra seja corpo para mim e para os outros. Se tirarmos as capas de beatice e moralismo com que se carregou o Evangelho, vemos e sentimos como é exigente no caminho da liberdade. Todo ele nos encaminha para livrarmo-nos do mal e conseguirmos ter um olhar límpido e de bem para o que nos rodeia. Em resumo, nas palavras do poeta italiano Arnoldo Mosca Mondadori, “sentir-se olhado nas suas feridas. É o que provoca Jesus nas pessoas que olha. Elas convertem-se porque Ele, com o seu olhar, penetra nas suas feridas, penetra nas suas maiores fragilidades, onde o olhar habitualmente julga sempre. Mas Jesus fixa esse ponto como o ponto mais amado, e provoca a comoção. Ser olhado na sua fragilidade por um olhar de amor puro e incondicional… quando uma pessoa se dá conta deste olhar, desarma-se. Mas Jesus continua a fixar esse ponto, e com o fogo dos seus olhos de amor abate como uma chama oxídrica todo o muro, e entra nele em profundidade: Ele quer habitar a nossa dor, a nossa escuridão, o nosso inferno; é daí que quer salvar-nos.”


A salvação de Cristo é libertação de vida. A presença habitada da limpidez  do olhar divino tudo transforma. Tudo. A solenidade dos momentos da celebração passa para a dos que nos desarmam de todos os adereços que impedem a autenticidade de nós mesmos. E na verdade só encontramos um caminho: o de anunciar o bem maior, em amor que não julga nem condena, mas abraça e liberta.


terça-feira, 20 de julho de 2021

Gira-para-o-sol


[Secção coisas de nada a meio do dia] Ali estava, frondoso e farfalhudo ao longe. Gosto muito de girassóis. Dizem que é uma flor a oferecer a amigos especiais. Todas serão, mas esta guarda particular luz a transmitir quando oferecida. O acto da dádiva é um reconhecimento de vida. E quando se dá o melhor que se tem, em valores para lá do valor, em passos de liberdade, então a luz abre a leveza da humanidade. A criação dá-se. A única troca que permite é a da contemplação. A amizade bem vivida é espaço e tempo de luz na dádiva, também com possibilidade de acolher a queda, a sombra, a tristeza. A dádiva pode revestir-se de perdão. Quando nos damos todos saímos a ganhar. Como se nos fossemos girando à volta da Luz. Descentrados, transcendemos e colocamos o foco na beleza da Vida.


quarta-feira, 14 de julho de 2021

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

os véus que se rasgam com a luz

deixando o ser despojado

para receber a respiração solta do amor


Entrego-Te

quem vive a dificuldade de parar


Peço-Te

o tempo suspenso do pôr-de-sol


domingo, 11 de julho de 2021

Os homens também choram


[Secção boas leituras] Terminei de ler “Os homens também choram” de Nelson Marques. Que interessante síntese sobre o sentir masculino ou apresentação das “novas masculinidades”. A educação emocional em geral, dos homens em particular, anda muito deficitária. Aliás, faz tanta falta a educação de corpo, poderia dizer, que integra o todo que somos enquanto pessoas. Com investigação e histórias concretas, Nelson Marques abre perguntas, caminhos, perspectivas para se entender como é fundamental esta educação para nos respeitarmos enquanto pessoas, independentemente do sexo. Ainda assim, as muitas lágrimas acumuladas e não choradas quando atendidas e soltas libertarão muitas couraças, dando vida nova a muitos homens. E tanto eles como elas à sua volta ganharão em humanidade.


sexta-feira, 9 de julho de 2021

Breve oração




[Breve oração ao entardecer]


Agradeço-Te

o silêncio que trava a palavra sem corpo 

e desperta o texto com sentido 


Peço-Te

sabedoria e astúcia 

nas travagens e nos despertares


quinta-feira, 8 de julho de 2021

Breves notas



[Breves notas nocturnas com toque de letras verdes] A vida tem-me permitido compreender a fé. Nunca fui de pietismo, não me arrastando diante de um deus que nos sufoca. Talvez tenha ajudado ter fugido da catequese quando era pequeno. Também nunca passei por um “não creio”. Tenho vindo a conhecer Deus que nos quer adultos. Reconheço os desafios: sou obrigado a libertar-me de medos.  E ainda são uns quantos. Ainda assim, nesse caminho de liberdade, atravesso os meus pecados; converso com tantas pessoas diferentes; permito-me apaixonar; leio as Escrituras sem preconceitos; dou lugar às perguntas; escuto as sombras; respiro luz; emociono-me quando celebro Missa e quando assisto ao crescimento de quem acompanho. E, em semente de mostarda, a fé sinto-a natural e viva: abre-me à vastidão da humanidade.


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Amarmo-nos é um desafio


[Secção pensamentos soltos] Amarmo-nos é um grande desafio. Uma das dimensões desse caminho é conhecermo-nos. E tal, apesar de libertador, é cansativo: exige, sobretudo, vontade, em conjunto com o confronto com a realidade nossa, do melhor ao pior, tal qual é. Aumenta a dificuldade quando somos bombardeados de distracções: ora de idealizações, ora de quantidade de informação a que supostamente há que dar atenção. Leva a que se tenha de ter opinião sobre tudo e sobre todos. Dito de outro modo, estar no lugar de Deus omnisciente, omnipotente e omnipresente. E vivem-se as paradoxais subtis ditaduras da sociedade dita livre: sempre contactável, sempre disponível, sempre opinativo. Não se aguenta. O amor definha. 


A acompanhar centenas de pessoas nos últimos tempos, sobretudo em contexto de retiro, apercebo-me do quanto se pode estar preso a idealismos que impedem a tomada de consciência do lugar próprio, sem rodeios nem comparações. Sim, enquanto humanos somos complexos. E que maravilha. Mas, complicamos muito quando nos deixamos levar pelo emotivismo sem nos darmos tempo para respirar e pensar. Quando isso acontece saem tantas novidades surpreendentes. Do que mais me dá que pensar são as vezes que ouço: “é a primeira vez que estou a contar isto!” Estar disponível para acolher a sombra, o lado lunar, o que não se gosta de si mesmo, é duro, mas fundamental para a liberdade. E o isto que sai pela primeira vez, do mais variado, mas sobretudo de pesos acumulado em anos, décadas, não trabalhado, integrado, aceite faz com que hajam lutas internas e fugas de amor, onde o mais fácil é diluir-se no emotivismo social, político e religioso. E em nome de acabar com a violência, para ser livre, torno-me violento, julgando e anulando, não o comportamento do outro, mas o outro enquanto ser. Mais uma ditadura subtil, que alimenta ditaduras sociais. 


Pois, amarmo-nos é um desafio. Em geral, conseguimos responder mais ou menos bem ao como estou. Mas, no final do dia, poder responder ao quem sou, de forma livre, é fundamental para esse desafio de amarmo-nos. Insisto muito no Amor, mas, quer queiramos ou não, é esse que nos salva enquanto pessoas. O resto são apenas adereços. 


domingo, 4 de julho de 2021

Sobre fraqueza e força


[Secção pensamentos soltos sobre fraqueza e força] A humildade é das virtudes humanas mais exigentes. Tomar consciência da beleza de quem somos, do quanto o amor próprio nos desafia a viver o nosso lugar sem roubar o de ninguém, permitindo que a vulnerabilidade seja sítio de compaixão, compreensão e misericórdia pelo outro, revela humanidade em caminho de divindade.


Tenho aprendido este caminho no quotidiano. De vez em quando a soberba e o orgulho atravessam-me o ser. Por isso, sinto cada vez mais a necessidade de recolher-me em silêncio a dar nome às subtilezas do que me afasta da humildade. Tento não cair na tentação do perfeccionismo, como se me exigisse o acabamento já. Aí, além de Jesus que dá o exemplo de profundo amor, recordo S. Paulo: após o insistente pedido de que lhe seja removido o “aguilhão na carne”, ouve desde as entranhas que lhe basta a graça de Deus. Esta passagem é de grande força, convidando ao silêncio que liberta toda a presunção e acolhe todas as graças a pôr ao serviço por uma humanidade mais luminosa. Cada pessoa, sem comparações, percebe que terá a sua fragilidade e que desde aí também poderá encontrar a força: seja a pedir ajuda, seja a dá-la desde o amor que tudo compreende. Todos ganharíamos. 


Ser humilde é abraçar a verdade. Quando tal acontece, dão-se passos de luz no perdão que abre vida nova. Sem automatismos, é a peregrinação da existência. Vamos crescendo desde o amor e, se possível, com humor. Termino a agradecer a ordenação de dois padres, o Luís e o Marcelo, e três diáconos, o Daniel, o João Paulo e o Miguel, na diocese de Vila Real. Recebi a graça de os acompanhar no retiro de preparação para a ordenação. Foi uma bonita celebração. A diocese e a Igreja ganham cinco padres e diáconos humildes, na fraqueza e na força em Deus.


sábado, 3 de julho de 2021

Toca-se porque se crê


[Secção pensamentos soltos sobre fé e corpo, na Festa de S.Tomé] Quanto mais leio sobre corpo, mais fico com a certeza de ser, como dizia Tertuliano, passagem para a salvação. O toque de pele com a realidade abre novo conhecimento. Desde cedo que o abraço, o afago, o afecto, dão sentido de ser e confiança à pessoa que recebe. Por outras palavras, dão fé.


A fé não é uma idealização da realidade. É a concretização da confiança sem ingenuidades em nós mesmos, nos outros e no transcendente, em Deus. Tomé, que celebramos hoje, quando lhe disseram que Jesus tinha ressuscitado, disse: “preciso ver e tocar para crer”. Ficou apenas o “ver para crer”. No entanto, o tocar e em particular nas chagas, ou marcas da fragilidade, da vulnerabilidade, também é confirmação de crença. A devoção popular tem muito de corpo. Não é intelectualizada, mas física, nesse palpável que fala de Deus. Há uns anos, enquanto rezava na Igreja de S. Domingos, em Lisboa, assisti a este momento. Apesar do pudor, senti também a força da simplicidade da fé, por isso tirei a foto. O gesto de tocar na imagem foi de grande beleza. Não se trata de tocar para crer, mas porque se crê toca-se em agradecimento ou petição. Não é só cabeça e/ou coração a rezar, mas todo o ser. E falta tanto, é mesmo fundamental, trazer corpo à oração. 


A devoção tem e precisa de corpo. Somos relação com Deus em corpo. Por isso, a força da aparente falta de fé de Tomé mostra-nos que, sim, podemos duvidar, mas, mais que isso, podemo-nos permitir viver a fé de forma encarnada, sendo o toque, o afecto, todo o corpo, desde o respeito por si mesmo e pelo outro, lugares de Deus.