sábado, 31 de outubro de 2020

Contraste de sombra e luz


[Secção coisas de nada] Observava o contraste e pensava na polaridade social crescente. Sombra e luz. Não em grupos de pessoas, mas em cada um de nós. A noção de complexidade leva a perceber a sensatez exigida pelos tempos actuais. Sensatez que deveria aliviar ironia, sarcasmo, gozo, desdém. Tempos que pedem maturidade. Essa só acontece quando se é capaz de perceber que a sombra e a luz oscilam em cada pessoa, a própria incluída, levando ao respeito pelo outro.


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao entardecer, enquanto oriento Exercícios Espirituais]


Agradeço-Te

as folhas caídas e iluminadas

de passos transformados em novos tempos


Peço-Te

que de tudo faça húmus

a fortalecer as sementes

do caminho, da verdade e da vida


terça-feira, 27 de outubro de 2020

Agradecer


[Secção agradecimento] Quando termino cada dia, agradeço o que vivi. De tudo se tira aprendizagem. E de um dia de aniversário mais há a agradecer. Cada pessoa, cada mensagem, cada telefonema, cada memória que desponta nas palavras em abraços. Ontem foi dia cheio. Agradeço de coração cada nome. Levo-vos à oração. Que a Luz vos guie nestes tempos de tanto à beleza de ser.


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

41



[Secção vida]

41!


Mais do que anos, uma multiplicidade de acontecimentos com tantos nomes que me levam a agradecer a Deus cada dia, sem excepção, até hoje. E a vida acontece, pois “um dom vem colocar-se ao lado do meu fazer para o proteger do nada”. Maria Gabriela Llansol


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Homossexualidade e fé



[Secção pensamentos soltos sobre homossexualidade e fé] Acompanho pessoas que sentem liberdade em partilhar a sua orientação homossexual, onde a importância da fé é fundamental. Querem ir mais longe do “Deus ama-te como és!” Diz-me uma ou outra: “com muito respeito, é preciso mais.” Se por um lado há o extremismo que fala de “curas” (propositadamente entre aspas), por outro, há mais em jogo quando se trata da fé. Afinal, esta é caminho de mistério, a desbravar desde a condição que cada pessoa vive e a descobrir no imenso para além de nós. Para mim, é evidente a importância de aprofundar a reflexão. 


Dou um exemplo, com a devida autorização, do que escutei numa conversa:

“A olhar a minha história com Deus fui dar a um pequeno caderno. Devia ter uns 13, 14 anos. Recordo ser apedrejado algumas vezes. Um grupo de amigas já me esperava à entrada da escola para irem comigo. Recordo também o baixarem-me as calças no refeitório. Os risos e o “faz-te homem!” É duro. Escrevi: ‘Deus, peço-te, torna-me invisível. Faz-me desaparecer.’”


A minha fé fala do Deus que se fez visível em carne. São muitas as pessoas que, precisamente devido a propostas desumanas de fé, desejam a invisibilidade. Infelizmente, há quem não aguente mesmo e desaparece. Há algumas a matar deus das suas vidas. E compreendo, com muita dor. Outras, matam esse deus e abrem-se ao Deus encarnado que as desafia a ser ainda mais luz, com desejos de pertença à Igreja, a colaborar em distintas missões, sem que tenham de anular a sua afectividade. E, não, não é laxismo da minha parte, ou ser “padre fixe e cool” em que tudo vale. É ir tendo cada vez mais consciência da complexidade do ser humano, também a partir da escuta das alegrias e esperanças, angústias e tristezas de quem (apesar de não ter escolhido ser como é e nalguns casos ter até sido rejeitado em nome de deus) escolhe continuar a descobrir e a seguir o Deus visível que a todos quer salvar e chama a humanizar este mundo. E que haja séria reflexão sobre temas complexos, sobretudo para que mais ninguém sinta necessidade de desaparecer pela sua condição existencial.


domingo, 18 de outubro de 2020

Agradecer



[Secção vida] Agradecer. É dia de o fazer. Afinal, são 45 anos desde aquele dia em que disseram um ao outro que o amor é sagrado. Como em qualquer casamento não se sonha o que vem a acontecer. Ainda assim, há desejos de que seja sempre o melhor. Penso na cumplicidade que os dois têm com as diferenças que os caracterizam. Já tinha publicado esta fotografia. Volto a ela por ser tão expressiva no muito a agradecer. Apontava o céu e tínhamos o mar diante. O Infinito de tanto vivido e do muito ainda a descobrir. Ser casal tem cada vez mais a exigência de muita transformação. Não é fácil, pois o Amor implica dar e receber com muita gratuidade. E isso é aprendizagem de vida. Parabéns, Mãe Maria e Pai José, pelo vosso amor cheio de paciência um pelo outro! Gosto muito de vocês.


sábado, 17 de outubro de 2020

Atenção



[Aviso com sentido de responsabilidade social sobre a famosa app “STAYAWAY Covid”] Independentemente da opinião sobre o tema, e não é uma publicação para reflectir sobre isso, faço um alerta para quem tenha familiares e amigos de idade avançada a viver sozinhos: cuidado com mais uma oportunidade de burla. Avisem-nos para não aceitarem nenhum pedido de adesão a seja o que for sem antes falarem com alguém que veja o que realmente é. A ouvir nos telejornais as informações de obrigatoriedade ou não, ficam sem realmente saber e tornam-se alvos fáceis para mais uma tentativa de burla. Obrigado! [Imagem retirada do site do SNS]


Notas soltas com pensar e dançar


 Pedro Vicente

[Notas soltas em tempo de pandemia]

Chegará o dia em que seremos especialistas na escuta dos especialistas das distintas áreas de que não somos especialistas. 


O pensar clama por presença.

A humildade clama por presença. 

O ponderar clama por presença. 

A sensatez clama por presença. 

O parar clama por presença. 

A dança clama por presença. 


Antes de se partilhar algo, pare, pondere e pense se vai ajudar ou vai criar mais ruído. Na dúvida, não partilhe e dance. 


Se tem vontade de mandar bitaites sobre uma realidade que desconhece ou que conhece porque ouviu da vizinhança, em conversa de café, leu no site manhoso sem qualquer fonte credível ou na notícia que apenas alimenta o caos, pare, pondere e pense se não estará a descarregar a frustração acumulada ou a necessitar de atenção. Caso precise descarregar alguma frustração, aconselho dançar. Caso necessite de atenção, aconselho dançar. Se forem muito intensas, a frustração e a necessidade de atenção, procure especialistas que ajudam a perceber a origem e como libertar. E continue a dançar. Faz muito bem! 


Sim, custa haver tanto ruído informativo. Então, que não se contribua com ainda mais partilhas ruidosas. Que se partilhe uma boa música e que se dance. Obrigado!


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A força na vulnerabilidade



[Coisas na vida de um padre] A propósito de “Outubro em Missão”, do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga convidaram-me a escrever para o Diário do Minho um breve texto, com a escolha de um olhar em foto e propostas de um livro, um filme e uma música à volta do tema da fragilidade. Aqui o partilho:


“Quando estou fraco, então é que sou forte” 2 Cor 12, 10.


A primeira experiência bíblica de vulnerabilidade acontece no livro do Génesis, no momento em que a nudez provoca vergonha e medo. A abertura ao conhecimento, através do fruto da árvore proibida, leva à tomada de consciência da fragilidade. Ser frágil faz parte da condição humana. Na lei puramente instintiva, os fracos, os frágeis, os limitados, os doentes, são descartados em nome da sobrevivência da espécie. Na humanidade, não se dá o apartar, mas o cuidado, a atenção, o afecto, que permite a vida do outro para além da biologia. 


Parece-me que na actualidade uma das grandes fragilidades é a imposição do ter de ser forte, capaz, totalmente apto para tudo. A imagem do super-homem/mulher, super-mãe/pai, super-colaborador, super-religiosa, super-padre, capaz de aguentar com tudo, é exigida como que para provar que se é bom ou até mesmo digno. Isto não é Deus. Os números registam o aumento de esgotamentos levando ao fim de stock de ansiolíticos nas farmácias. É tempo de tomar consciência da vulnerabilidade, da importância de pedir ajuda, de sermos comunidade que se apoia e se suporta na debilidade. Isto é de Deus.


Senti grande alegria quando o Papa Francisco partilhou numa entrevista que necessitou de psicoterapia. Passou pela debilidade e pediu ajuda. Reconhecer a fraqueza é sinal de força para humanizar. Depois de eu ter passado por sete anos de psicoterapia de mãos dadas com o acompanhamento espiritual, sinto-me mais integrado para escutar, acompanhar a outra pessoa, sem julgamento e com mais sentido da compaixão. Quando se entrega a nossa profunda autenticidade a Deus, damos-lhe espaço para manifestar o imenso bem que pode fazer através de nós.


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao adormecer]


Agradeço-Te

as palavras autênticas de vida e cheias de corpo, 

que não se gastam em desdenhar, mas libertam-se a bem-dizer


Peço-Te

mostra-me a escrita de cada nome

a iluminar em novo amanhecer


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Respeito


[Secção letras verdes] Depois de ler reacções ante a realidade marcadas ou pelo negacionismo, ou pelo medo avassalador. Os extremos nunca foram bons conselheiros.


domingo, 11 de outubro de 2020

Luz e sombra


[Secção coisas de nada] O diálogo entre a luz e a sombra consegue que detenha o olhar muitas vezes. Aconteceu há pouco, com o sol a bater numa coluna do Mosteiro de Leça do Bailio. Em momentos próprios, em cuidado e respeito pelo tempo certo, e acompanhados por alguém que ajude a clarificar e dar nome, o visitar a sombra, reconhecê-la como caminho e parte do ser, apesar de exigente, é profundamente iluminador. Fazê-lo é resgatar, diminuir, a possibilidade de ser controlado por ela. Dar nome às coisas, seja o que for, em especial as escondidas, abafadas, silenciadas, é permitir que a luz ilumine a sombra. Aí, a humildade ganha espaço. Diminui o julgamento apressado por reacção. Dá-se novo amanhecer. E o sol aponta caminho de vida.


sábado, 10 de outubro de 2020

Saúde Mental



[Secção pensamentos soltos em dia mundial da saúde mental] Desde Junho até agora escutei à volta de 250 pessoas, sobretudo em retiros, juntando as que me escrevem pelas redes, com as que vou acompanhando espiritual e humanamente. Todas me falaram da pandemia. A maioria, dos efeitos não muito simpáticos na sua vida, violência incluída. Muitas, do que despertou e outras tantas dos medos em relação ao futuro. 


O que atravessamos é brutalmente novo. Agita, mexe, convoca o desconhecido. É de saúde física que mais se fala. Mas, é cada vez mais preocupante os efeitos na saúde mental. Apesar de já se dar mais atenção, ainda não é tida em conta na devida medida. Os cansaços recorrentes, as faltas de paciência constantes, a permanente sensação de desorientação, o aumento das angústias e irritações, entre outros, são sinais claros de que é necessário pedir ajuda na escuta sem julgamentos. Infelizmente a saúde mental não tem peso de comparticipação, o que leva a que muitas pessoas não consigam a ajuda necessária. Afinal, não vai somente de comprimidos, mas de acompanhamento, que leva tempo, por parte de profissionais aptos a ajudar a pessoa a fazer caminho de amor-próprio. 


Cuidar de nós implica a saúde mental. A fronteira com a dimensão espiritual é ténue. Que haja cada vez mais reconhecimento social e político de que o cuidado psíquico e espiritual é fundamental para uma sociedade ser saudável e humana.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

a força do tempo, em linhas que revelam as dores e alegrias, 

abrindo-se à suavidade da sabedoria dos passos


Peço-Te

continuar na escuta desde o olhar atento a todo o ser, 

ajudando a que o outro ganhe cada vez mais estrutura e liberdade


terça-feira, 6 de outubro de 2020

É a nossa casa

 

Pedro Leite

[Coisas na vida de um padre] Quando vi esta fotografia pensei num texto. O dia foi muito bonito. O Gonçalo e o Guilherme, primos, estavam a explorar a Igreja no dia do seu baptizado. Eu sentei-me com eles a dizer: “é a vossa casa”. Entretanto a vida avança e mais acontecimentos bonitos, um casamento e boas conversas, fazem-me sentir atento à universalidade, ao espaço de luz a integrar, onde só cada um de nós e Deus podem estar. Situar o alento, impedir que alguém avance em desajuste de sentir e contribuir para o crescimento humano. Estar no foco. Estar no centro do amor. É a nossa casa.


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Dia Mundial do Professor



[Secção pensamentos soltos em dia mundial do professor] Qualquer profissão que implique com a vida de uma pessoa roça o sagrado. Cuidar do outro, seja biológica, afectiva, social, espiritual e/ou intelectualmente é imenso. É bom que se exija qualidade num professor. É muito bom que se agradeça o tempo (in)determinado com que passa diante de uma pessoa ou de um grupo de pessoas a transmitir conhecimento e saber. Conteúdo e forma fazem parte desse ensinamento. No entanto, a ser posto para outros planos ou até mesmo esquecido em nome da burocracia crescente, a dar resultados para estatísticas, rankings, produtividade, anulando as histórias de tantos alunos que lhes passam pelas mãos. 


Quando vigiava exames, pensava na vida de cada aluno. E rezava para que cada fossem capazes de expressar o que aprendeu e que crescessem em humanidade. É preciso critérios para aferir o melhor. Mas, melhor em quê? Entende-se: melhores notas para se poder entrar no que se quer e, em caminho, provar que o professor é bom. No entanto, o professor não é bom apenas porque o aluno tem boas notas. Há alunos que são muito bons, mas que de notas nada sabem ou querem saber, apenas são obrigados por uma sociedade que exige “dr.” e “eng.” para dignificar o estatuto de ser pessoa. Há alunos que apenas querem sentir a presença quem os valoriza na existência, em talentos que não são necessariamente intelectuais. Muitas vezes, é o professor esse alguém. 


A educação actual é marcada pelo intelecto, diminuindo o tempo de afecto. “Ah, mas isso é em casa!” E quando não há em casa? Também me parece que se cai no perigo do igualitarismo, onde não se valoriza a importância da diferença. Não há dúvidas: tudo posto na igualdade na dignidade, para além de qualquer característica da pessoa, mas ao diferente que se ajuste o que o ajuda a crescer como pessoa. Não é por acaso que em latim professor é Magister: esse “mais” que vive na sabedoria, em intelecto e experiência de vida, que exige a constante actualização, académica e humana, para acompanhar os sinais dos tempos (e que tempos estes!). Nestes tempos duros e exigentes, o meu abraço e a minha oração agradecida por todos os professores.


domingo, 4 de outubro de 2020

"Temos de"?

 Pai José

[Secção pensamentos soltos] Alguém me comentava como a fragilidade não conta nos dias de hoje: “Temos de ser fortes, dizem-me constantemente. Temos de ser os melhores. Temos de ser superiores a tudo. A dores da vida: tudo uma treta e pieguice.” A pessoa estava em tremenda fragilidade e doía-lhe esse sentimento de imposição de força.


O “temos de” é demasiado duro. Obriga a uma constante comparação a partir de exigências muitas vezes desumanas. Compreender a realidade pessoal exige muito cuidado e respeito. Quanto mais a da humanidade que atravessa grande fragilidade em tantas perguntas e acontecimentos. A fronteira entre a mentira verdadeira e a verdade autêntica torna-se ténue. Para quê? Apenas alicerçar forças que oprimem. Complexos de superioridade? Pois, não existem. Todo o que se acha forte, superior, acima de, vive grande complexo de inferioridade. E estamos em tempos de encontrar cada vez mais a humanidade pelo respeito e tempo do outro.


Em “Todos Irmãos”, esta tão humana Encíclica hoje publicada, Francisco fala de ternura, de “recuperar a amabilidade”. Diz-nos: “o exercício da amabilidade não é um detalhe insignificante nem uma atitude superficial ou burguesa. Dado que pressupõe estima e respeito, quando se torna cultura numa sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais, o modo de debater e confrontar ideias. Facilita a busca de consensos e abre caminhos onde a exasperação destrói todas as pontes”. Se “temos de” alguma coisa, que seja o de caminhar em autenticidade, reconhecendo a força que vem da sua vulnerabilidade.


Todos Irmãos


[Secção humanidade] Em dia de S. Francisco de Assis é publicada a nova Encíclica do Papa Francisco “Todos Irmãos”. Apela à fraternidade, amizade, humanidade. É mesmo uma encíclica para a actualidade. Partilho o texto que escrevi para o Ponto SJ como convite à leitura e reflexão.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Mais amor


[Secção coisas de nada em dia de Sta. Teresa do Menino Jesus] O que precisamos? Mesmo? Além de abrir a visão e o coração às pequenas grandes coisas da vida, aprender a ganhar tempo com o que conduz a mais amor.