domingo, 4 de outubro de 2020

"Temos de"?

 Pai José

[Secção pensamentos soltos] Alguém me comentava como a fragilidade não conta nos dias de hoje: “Temos de ser fortes, dizem-me constantemente. Temos de ser os melhores. Temos de ser superiores a tudo. A dores da vida: tudo uma treta e pieguice.” A pessoa estava em tremenda fragilidade e doía-lhe esse sentimento de imposição de força.


O “temos de” é demasiado duro. Obriga a uma constante comparação a partir de exigências muitas vezes desumanas. Compreender a realidade pessoal exige muito cuidado e respeito. Quanto mais a da humanidade que atravessa grande fragilidade em tantas perguntas e acontecimentos. A fronteira entre a mentira verdadeira e a verdade autêntica torna-se ténue. Para quê? Apenas alicerçar forças que oprimem. Complexos de superioridade? Pois, não existem. Todo o que se acha forte, superior, acima de, vive grande complexo de inferioridade. E estamos em tempos de encontrar cada vez mais a humanidade pelo respeito e tempo do outro.


Em “Todos Irmãos”, esta tão humana Encíclica hoje publicada, Francisco fala de ternura, de “recuperar a amabilidade”. Diz-nos: “o exercício da amabilidade não é um detalhe insignificante nem uma atitude superficial ou burguesa. Dado que pressupõe estima e respeito, quando se torna cultura numa sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais, o modo de debater e confrontar ideias. Facilita a busca de consensos e abre caminhos onde a exasperação destrói todas as pontes”. Se “temos de” alguma coisa, que seja o de caminhar em autenticidade, reconhecendo a força que vem da sua vulnerabilidade.


Sem comentários:

Enviar um comentário