[Coisas na vida de um padre] A propósito de “Outubro em Missão”, do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga convidaram-me a escrever para o Diário do Minho um breve texto, com a escolha de um olhar em foto e propostas de um livro, um filme e uma música à volta do tema da fragilidade. Aqui o partilho:
“Quando estou fraco, então é que sou forte” 2 Cor 12, 10.
A primeira experiência bíblica de vulnerabilidade acontece no livro do Génesis, no momento em que a nudez provoca vergonha e medo. A abertura ao conhecimento, através do fruto da árvore proibida, leva à tomada de consciência da fragilidade. Ser frágil faz parte da condição humana. Na lei puramente instintiva, os fracos, os frágeis, os limitados, os doentes, são descartados em nome da sobrevivência da espécie. Na humanidade, não se dá o apartar, mas o cuidado, a atenção, o afecto, que permite a vida do outro para além da biologia.
Parece-me que na actualidade uma das grandes fragilidades é a imposição do ter de ser forte, capaz, totalmente apto para tudo. A imagem do super-homem/mulher, super-mãe/pai, super-colaborador, super-religiosa, super-padre, capaz de aguentar com tudo, é exigida como que para provar que se é bom ou até mesmo digno. Isto não é Deus. Os números registam o aumento de esgotamentos levando ao fim de stock de ansiolíticos nas farmácias. É tempo de tomar consciência da vulnerabilidade, da importância de pedir ajuda, de sermos comunidade que se apoia e se suporta na debilidade. Isto é de Deus.
Senti grande alegria quando o Papa Francisco partilhou numa entrevista que necessitou de psicoterapia. Passou pela debilidade e pediu ajuda. Reconhecer a fraqueza é sinal de força para humanizar. Depois de eu ter passado por sete anos de psicoterapia de mãos dadas com o acompanhamento espiritual, sinto-me mais integrado para escutar, acompanhar a outra pessoa, sem julgamento e com mais sentido da compaixão. Quando se entrega a nossa profunda autenticidade a Deus, damos-lhe espaço para manifestar o imenso bem que pode fazer através de nós.
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