terça-feira, 30 de junho de 2020

Todas as cores



[Secção letras verdes com orgulho pela diversidade humana e dor por quem ainda morre simplesmente por ser diferente]


segunda-feira, 29 de junho de 2020

Boa recordação




[Coisas na vida de um padre] Chega-me esta fotografia de um dia muito bonito. Já passaram uns bons meses. Mas, faz sentido partilhar em dia de S. Pedro e S. Paulo, por tanto que há nesta história de vida. As colunas da unidade e da diversidade na Igreja significam tanto no respeito e no encontro. Tal como neste baptismo cheio de Vida.


domingo, 28 de junho de 2020

Tempo novo exige luz




[Secção pensamentos soltos] Estou a orientar retiro perto de uma praia. No final de cada tarde vou lá e faço silêncio deixando o coração falar. Hoje estava nublado. Sozinho, apenas ouvia as ondas. Naturalmente surgiam nomes, situações e acontecimentos. Por vezes esquecemos que vivemos algo novo em todo o mundo. A acumular à realidade pessoal, toda esta pandemia tem agitado as emoções, independentemente de se achar que é tudo uma conspiração, treta, o que for para não querer assumir a realidade que tudo mudou. Os efeitos sociais e políticos estão à vista. Os psicológicos estão a continuar a surgir. 


Fala-se de festas, mas omitem-se os aglomerados por necessidade em autocarros ou metros. Fala-se de tele-trabalho, mas omite-se tudo o que tem de ser feito presencialmente, em especial pelos mais pobres. Fala-se de colaboração, mas desde que “eu fique a ganhar mais” (dinheiro, vida, prestígio). Fala-se de preocupação pela saúde mental, mas omitem-se as condições para as ajudas e acções concretas. Fala-se de cercos a freguesias, mas omite-se a justiça social. Fala-se da necessidade de missa, mas omite-se o respeito pela diferença. 


Este tempo novo exige muito de todos nós. Mas mais de quem pouco ou nada têm. No muito que vivemos, sejamos capazes de atravessar as sombras com sentido de justiça, honestidade intelectual, compreensão, reflexão, cuidado, atenção, respeito, com luz, muita luz. 


segunda-feira, 22 de junho de 2020

Humilde não sei



[Secção pensamentos soltos sobre a vida] Penso na quantidade de certezas que há sobre tudo. Acredito de que racionalmente toda a pessoa faz o melhor que acha para si e para os outros. Na cabeça tudo é claro pelo que se aprendeu a ser bem. Os filtros mentais de aprendizagem na vida revelam como se deve ser ou estar. A tal educação formal, informal, consciente e inconsciente. É tanto. 


Mas a vida revela perguntas. Pôr-se em causa pode ser muito doloroso. Pilares da existência podem desmoronar-se com a escuridão desperta de nova aprendizagem. Ou clarão com a perda de filtros ou véus que abafam o ser. A dificuldade do passos aumenta com a incompreensão. Ou suaviza-se com os não-julgamentos rápidos. Apenas os que atravessaram a sabedoria das dúvidas sabem que há muito mais do que a vista pode alcançar. Então, vem o silêncio da escuta. E o abraço do conforto. 


As certezas dão lugar ao humilde não sei. Aí terminam as competições de existência, dando lugar a mãos dadas no caminho das perguntas que abrirão ao amor.


domingo, 21 de junho de 2020

Partilhas úteis




[Secção partilhas úteis] Diante do sem-chão que se fica ante algo forte e chocante, faça-se a homenagem desde o respeito. E também do trabalho pessoal de estar atento a quem precisa de ajuda, de desenvolver humildade e sabedoria para saber realmente como ajudar. Por vezes, é directamente. Outras, indirectamente. A fronteira é ténue. Se há dúvidas, opte-se pelo indirectamente falando com alguém que realmente perceba do assunto. 


A saúde mental, de alma, de espírito, quando está debilitada pode ser muito silenciosa. Mas não deverá ser menosprezada, em nada. Que se saiba lidar com a fragilidade do outro desde o respeito e cuidado. Aqui ficam contactos úteis:

SNS24 - 808242424 (seleccionar a opção 4 - aconselhamento psicológico)


Linha SOS Voz Amiga. Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio - 800 209 899

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Breve oração




[Breve oração ao entardecer em dia de Sagrado Coração de Jesus]


Agradeço-Te

o coração que a todos acolhe


Peço-Te

mansidão e humildade

no caminho a esse acolhimento


segunda-feira, 15 de junho de 2020

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Derrubar? Construir?



[Secção pensamentos soltos sobre derrubar e construir] Estou a orientar Exercícios Espirituais a um grupo. Entre os pontos e as conversas, vou lendo aqui e ali sobre estes novos tempos que vivemos para além ou talvez influenciados pela pandemia. Tenho escutado muito e vivido outro tanto que me têm levado a pensar na raiva, no ódio, na zanga, dirigidos tanto a passados, recentes ou antigos, como a pessoas e a realidades simbólicas na existência. 


Observo os rostos, escuto as vozes, leio o sentir das palavras escritas, e é muito perceptível a energia emocional de zanga com vontade de derrubar. Vontade que se torna acção, depois com gritos de júbilo ante o resultado, na sensação de libertação. Há tanta raiva contida, até mesmo em inconsciente colectivo de acumulação de injustiças, sim. A raiva, alojada na profundidade da existência e desrespeitada, tem muita influência na perda da razão. A raiva mal trabalhada cega a acção e perdem-se nuances, perspectivas, possibilidades de dialogar, eliminando tudo pela frente. Ideologia a anular inclusivamente aquilo de que se queixa não haver: justiça. 


Já estive no meio de multidões a manifestarmo-nos contra algo. Recordo uma em Paris, com cerca de 3 milhões de pessoas de todos os credos e condições (como se pode imaginar pelo número) na rua a manifestarmo-nos contra as acções do ódio terrorista e todo o fundamentalismo. Destruir para reinar ou avançar para uma neutralidade impossível é anular a humanidade. Vandalizar ou, como já li, propor que se coloquem todas as estátuas em museus, é higienizar a sociedade em mentalidade única. E isto é de extremos. Sempre perigosos. 


É preciso libertar raivas contidas. Fundamental, mesmo. Mas em modos humanizados. E daí, avançar para exercícios de reconciliação, transformando a humanidade desde a riqueza da sua diversidade, a partir do respeito e do perdão. Que bom seria que a RTP3 voltasse a passar o documentário “Para além do bem e do mal - histórias de justiça e perdão”. Há tanto trabalho interior a ser feito, a começar por mim, na construção da justiça em caminhos de reconciliação até à paz, tornando o “amor mais forte que a violência”.


quinta-feira, 11 de junho de 2020

Corpo de Deus




[Secção letras verdes em dia de Corpo de Deus, com tanto a acontecer no mundo e no coração de cada pessoa]


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Simbolismos




[Secção pensamentos soltos sobre o simbólico] Olhei para esta nuvem e recordei os desenhos animados da minha infância sobre uns duendes, com chapéu de cone. Cumprimentavam-se a esfregar os narizes uns nos outros. Gostava tanto que, quando ia visitar os meus avós a Marmelete, procurava-os pelo campo. Duendes e fadas. Sempre acreditei na sua existência.

O mundo da fantasia é caminho de encontro com o simbólico. Estabelecer relações com mundos fantásticos ajuda a criança a sentir-se segura e abrir horizontes de criatividade. Também mais tarde, como adultos, necessitamos do simbólico para estruturar as nossas relações com a realidade, de modo a combater fantasmas pessoais e sociais. O que vi hoje é só uma nuvem, mas a minha memória e criatividade fizeram dela um rosto de duende simpático.

Quando se rasga uma fotografia, se deita uma estátua abaixo, coloca-se uma aliança, atribui-se um sentido simbólico de uma realidade que se quer transformar. Às vezes, é apenas contemplação, como a nuvem, outras vezes, são marcas de vida, com implicações sérias na responsabilidade dos actos. O simbólico tem características de união. Fico a pensar que o respeito, o cuidado e o sentido do outro está a pedir atenção, para que não se perca humanidade nos gestos e nas palavras.

sábado, 6 de junho de 2020

Flash de luz



[Secção coisas de nada] Quando a vi parecia que chamava para que a admirassem. Flash de luz a recordar a beleza da contemplação. Não resisti ao registo. Ainda mais simbólico de bons reencontros, em amizade luminosa, em tempos que nos pedem cuidar do outro. Ficou o abraço por dar. Mas, a luz, ah, a luz, está sempre lá.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Pele e afecto



[Secção coisas de corpo] É fascinante a importância da pele para o ser. E, apesar de a cor ser importante para a reflexão, há algo mais fundo a perceber: o afecto. A falta de afecto é das principais causas do despontar de violência, seja em direcção ao próprio seja exteriorizada. Muitas vezes, a educação desajustada em nome de uma rigidez doutrinal, intelectual, moral, ideológica, que também já tenha sido recebida de herança, perpetuam-se bloqueios na relação afectiva. Lendo sobre a importância da pele, de como os traumas também ficam registados na memória corporal, observando a realidade nos acontecimentos e no modo como se escreve por aqui, por ali e por aí, é gritante tudo a falar de afecto, ou melhor, da falta dele. O constante ataque e defesa, desde as pequenas coisas, às grandes, nas relações pessoais e institucionais, é sinal de que muito ainda se mantém nas estruturas primitivas do ser. Atravessar os medos implica um ajuste afectivo. É fundamental libertar a quantidade de crostas que se foram acumulando na pele, muitas em nome da sobrevivência. Tirá-las, para encontrar a vida, dói. Mas, como se tem visto, outras dores, pessoais e sociais, tornam-se mais intensas quando esse trabalho individual não é feito. A dissociação da corporeidade, começando pela pele como zona de individualização, causa muitos estragos. Reconhecer as zonas de falta de afecto em si mesmo é caminho para as integrações pessoal e social. Sem desvalorizar outras hashtags, apenas complementar, quase se poderia criar um movimento “#KnowingLoveAndHealingYourSkinMatter”.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Portimonense em destaque



[Secção coisas de nada] Ver o meu Portimonense com este destaque no L’Équipe faz brotar orgulho. Reconheço que posso roçar a hipocrisia, afinal, não sou aficionado em futebol e parece que só gosto do clube nestes momentos. Pois, não. Apesar de ser pouco aficionado, sou sócio há 40 anos. O que me leva a escrever é sobretudo o facto deste jornal francês ter escolhido, entre tantas possibilidades como júbilo do regresso dos jogos, um clube não considerado dos grandes (apesar de evidentemente o ser). Perspectivas. Ou poemas como o “Para ser grande, sê inteiro” de Ricardo Reis.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Breve oração em #blackouttuesday



[Breve oração ao anoitecer em #blackouttuesday]

Entrego-Te
nomes de mulheres e homens que querem a liberdade tolhida por tons de pele, na estupidez de supremacias brancas, triste e indignadamente em Teu nome. 

Peço-Te
clarividência no olhar da justiça, argúcia na voz na denúncia da injustiça, sensatez na palavra ao recordar que não fazes acepção de pessoas, mas de todas as atitudes que anulem o outro.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Dia da Criança



José Almada

[Secção pensamentos soltos, repescados, por continuarem a fazer sentido, em dia da criança] Enquanto adultos educadores temos uma função principal: ajudar o bébé ser bébé, a criança ser criança, o adolescente ser adolescente. Nenhum deles é adulto em miniatura, nem uma extensão de cada pai, mãe ou educador, mas único, necessitando de quem os oriente no caminho do crescimento, da evolução pessoal. A orientação ou educação é um desafio em permanente actualização: implica viver o complexo jogo de limites amorosos e liberdades respeitadoras. O perigo situa-se nos dois pólos “podes-fazer-tudo-que-assim-aprendes” e “não-podes-fazer-nada-sem-que-seja-eu-a-controlar”. Para não estarmos em nenhum extremo destes, muitas vezes somos nós adultos que temos de permitir que o bébé, a criança, o adolescente que em nós não cresceu o faça. Sermos como crianças, como nos recorda Jesus no Evangelho, não é nos infantilizarmos. Ser como criança é permitirmo-nos ser o que somos, no reconhecimento dos limites e das liberdades entre luzes e sombras que anseiam por dissipar-se, e assim chorar choros contidos, brincar brincadeiras impedidas, amar amores plenos e autênticos. Ao sermos adultos como crianças tornamo-nos suportes dadores de vida. Bom caminho.