[Secção pensamentos soltos sobre derrubar e construir] Estou a orientar Exercícios Espirituais a um grupo. Entre os pontos e as conversas, vou lendo aqui e ali sobre estes novos tempos que vivemos para além ou talvez influenciados pela pandemia. Tenho escutado muito e vivido outro tanto que me têm levado a pensar na raiva, no ódio, na zanga, dirigidos tanto a passados, recentes ou antigos, como a pessoas e a realidades simbólicas na existência.
Observo os rostos, escuto as vozes, leio o sentir das palavras escritas, e é muito perceptível a energia emocional de zanga com vontade de derrubar. Vontade que se torna acção, depois com gritos de júbilo ante o resultado, na sensação de libertação. Há tanta raiva contida, até mesmo em inconsciente colectivo de acumulação de injustiças, sim. A raiva, alojada na profundidade da existência e desrespeitada, tem muita influência na perda da razão. A raiva mal trabalhada cega a acção e perdem-se nuances, perspectivas, possibilidades de dialogar, eliminando tudo pela frente. Ideologia a anular inclusivamente aquilo de que se queixa não haver: justiça.
Já estive no meio de multidões a manifestarmo-nos contra algo. Recordo uma em Paris, com cerca de 3 milhões de pessoas de todos os credos e condições (como se pode imaginar pelo número) na rua a manifestarmo-nos contra as acções do ódio terrorista e todo o fundamentalismo. Destruir para reinar ou avançar para uma neutralidade impossível é anular a humanidade. Vandalizar ou, como já li, propor que se coloquem todas as estátuas em museus, é higienizar a sociedade em mentalidade única. E isto é de extremos. Sempre perigosos.
É preciso libertar raivas contidas. Fundamental, mesmo. Mas em modos humanizados. E daí, avançar para exercícios de reconciliação, transformando a humanidade desde a riqueza da sua diversidade, a partir do respeito e do perdão. Que bom seria que a RTP3 voltasse a passar o documentário “Para além do bem e do mal - histórias de justiça e perdão”. Há tanto trabalho interior a ser feito, a começar por mim, na construção da justiça em caminhos de reconciliação até à paz, tornando o “amor mais forte que a violência”.
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