sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Gosto de lá voltar




Gosto de lá voltar. Já há muito que não o fazia. Os naturais cumprimentos que alimentam memórias: "como estás? Ainda te lembras dele? Foste meu aluno? Que fazes agora? É padre?!? Não sabia!" Outros cumprimentos de quem não me conhecia: "é o colega novo de português?" Risos e recordações, com as novidades de linguagem comum na educação. Sozinho passeei pelos pátios e pavilhões. Os espaços, com tanto de igual e tanto de diferente, evocam tempos idos. Aquele canto, onde nos juntávamos no intervalo grande da manhã. Os bancos do jardim, que me fizeram lembrar uma conversa específica sobre a morte e a vida. A sala de aula que em tempos passados sentei-me como aluno. Hoje, como professor trago à memória os tempos de aluno, reconhecendo os educadores e formadores que também me ajudaram ser quem sou. Esta semana, na SIC, uma reportagem falava da desmotivação de professores e de alunos. Quem vive o quotidiano de escola, acompanha esse crescendo da desmotivação, tentando ser excepção no estímulo, apesar do sistema educativo cada vez mais burocrático e cansativo. Todo o aluno tem potencialidade de talentos, para além do "tem de ser" para reconhecimento social. Há o simples "ser", esse já de si carregado de força que nada nem ninguém deveria abafar. Educar, que engloba o instruir e o ensinar, implica o direccionar para fora, ajudar a sair de si, dando ferramentas para que cada qual dê o seu melhor. Tal como afirma Eclesiastes, há tempo para tudo. Hoje foi dia de recordar o tempo de aluno e agradecer os educadores que me ajuda(ra)m a sair de mim, para, agora como educador, ajudar outros a partir. Mesmo que o tempo passe e tudo vá ficando diferente, gosto de lá voltar.

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