quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Escravidão... e liberdade




Teruo Araya

[A minha homilia de hoje, cá em casa, onde celebrei Missa pela dignidade do e no Trabalho] 

O Reino de Deus não é um local ou um espaço, mas o modo de agir a partir da fé, da esperança e da caridade. A presença de Deus é perceptível pelos gestos que humanizam o outro. Por vezes podem ser muito subtis, apenas conhecidos por quem faz a caridade. Outras, é um apelo generalizado, quase em grito, pelos que sofrem, sobretudo, a injustiça. Já naquele tempo, em que a escravidão era permitida (mesmo no meio cristão), S. Paulo começa a dar a volta a esta ideia, explicando que o escravo deixa de o ser por ser um irmão. 

Onésimo fugiu. Todo o escravo deseja a liberdade. E impressiona como na actualidade há tanta escravatura. Não é apenas lá, nos chamados países de terceiro mundo. Basta pensar aqui ao lado, onde, por exemplo, filipinas são submetidas à escravatura doméstica em casas de gente rica de dinheiro, mas miserável em humanidade. Ou na escravatura sexual que é cada vez maior por esta Europa fora. Em Portugal, há muitas empresas que, sob ameaça de despedimento, impedem que as mulheres engravidem, tudo em nome da produção e da economia. Ou então, aproveitando a “abundância” de gente em procura de emprego, mantêm os empregados em condições de exploração. Volto a estas palavras de S. Paulo: “Talvez ele se tenha afastado de ti, Filémon, durante algum tempo, a fim de o recuperares para sempre, não já como escravo, mas muito melhor do que escravo: como irmão muito querido. É isto que ele é para mim e muito mais para ti, não só pela natureza, mas também aos olhos do Senhor. Portanto, se me consideras teu amigo, recebe-o como a mim próprio.”


Assim,  trago para esta Missa todas as pessoas que estão submetidas à escravidão e todos os que a mantém escravos. Que o Reino de Deus se possa manifestar nos corações de uns e de outros. Dos escravos, mantendo viva a fé e a esperança da liberdade. Dos que escravizam, apelando à consciência de que também eles são escravos da desumanidade, permitindo-lhes ver que a caridade também é o caminho que têm de seguir para a liberdade de todos.

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