Alexey Titarenko
A primeira pergunta que me sai é: será que os nossos ministros, de modo especial alguns, entre os quais o Primeiro, dormem descansados todas as noites? E os anteriores?
Sem querer entrar em “populismos”, pois a tentação é grande, não posso deixar de manifestar a tristeza ao ler as novas medidas de austeridade. Depois de um manifesto de que não é justo, altera-se num primeiro momento. Mas dias depois vem uma nova medida ainda mais grave, intensa e dura para corrigir o que foi dito que não era justo. Assim foi ontem... e, mais uma vez, quem sofre é quem não tem mais para dar.
Volto a um tema que para mim se torna cada vez mais crucial: a responsabilidade aliada à liberdade. Quem governa, perante a deliberação dessa comunidade, assume a responsabilidade pela mesma. Acresce quando essa comunidade mais pequena está integrada noutra ainda maior: por exemplo, Portugal integrado na Comunidade Europeia. Será fácil falar no abstracto, no entanto, há situações em que se deveria falar no particular. No caso de quem é governado falamos de massas, do povo, não podendo entrar na história individual da D. Francelina ou do Sr. Justino. Já quem governa, sim: podemos falar de responsabilidade de pessoas que passaram pelo Governo, que tomaram decisões, levando a estados extremamente negativos de uma nação. Nas leis básicas da justiça, se eu tomo para mim o que é de todos, sou claramente penalizado. Contudo, pelo que vou confirmando, na situação portuguesa não me parece que seja assim.
Chegámos a um ponto de desespero: a oposição, que há meia dúzia de dias esteve no governo, acusa este último de estar a afundar o país, esquecendo o que foi feito quando lá estiveram. O governo refugia-se no passado recente, onde o anterior começou a afundar o país, e em nome disso e de um pedido de resgate suga, de uma forma a roçar o desumano, quem já mais não pode dar. A minha pergunta é: se o governo anterior foi irresponsável, porque não se move uma acção judicial contra pessoas concretas que tomaram decisões a favor de interesses próprios? Haverá por detrás alguma conivência?
A raiva que brota e leva a tomar decisões desesperadas, em greves ou manifestações, mais ou menos pacíficas, revela que já não se sabe por onde se anda ou deixa de andar. Há uma perda de confiança generalizada. O povo composto por rostos concretos, a quem se pede compreensão e que pague, já não sabe em quem acreditar. Escuto: “Que caia o governo!”. Pergunto: “Mas quem virá de seguida? E se mudamos, que vai fazer?” Se houvesse justiça, onde se assumisse de facto a responsabilidade das acções cometidas, talvez ressurgisse o sentido de valor pela pátria e ajuda no levantar do país. Vontade em ir mais longe há (sem que seja em emigração forçada). No entanto, cresceria se houvesse a sensação de que o respeito, a dignidade e o sentido de responsabilidade por uma nação fossem valores realmente presentes em quem governa.
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