segunda-feira, 4 de abril de 2022

Lugar(es)


[Notas soltas muito pessoais] Durante muito tempo senti-me fora do lugar. Como se perdido e a não pertencer a este mundo. Hoje sei ser um sentir de fuga, para não enfrentar as dores mais profundas. Ainda assim, a sensação cresce quando sou confrontado com histórias dilacerantes de dores, violência, abusos. Que quero? Que posso fazer? Que posso realmente fazer? Latejam as perguntas. 


Há pouco, num pequeno passeio pela quinta, vi os ramos das árvores a oscilar ao vento. Detenho-me nestas coisas. Uma pincelada de beleza. Uma pausa de eternidade. Entrecortada pelos ecos das imagens de destruição, de maldade sobre pessoas, na violência atroz. As árvores continuavam a oscilar ao vento. Encostei-me no muro se pedra. Pensei: que aconteceria se todos tivéssemos oportunidade de ver tudo sem filtros? Toda a nossa vida sem ponta de julgamento? Os medos, as vergonhas, os risos, os alívios, as irritações, os desejos, as pulsões, as prisões de alma, os gestos com ambiguidades, duplas intenções, as ânsias de poder e controlo do outro, tudo, diante das chaves da libertação pela verdade. Sim, a vida em nudez. Poderia haver grande probabilidade de não se aguentar. Por vezes, apesar de impedir crescimento, os auto-enganos são garantes de alguma estabilidade emocional. Nos tempos actuais, o medo de parar e reconhecer o que é sem rodeios é muito doloroso. Mas fundamental para a liberdade interior.


Precisamente por estarmos carregados de filtros de alma e de história(s), não podemos fazer essa jornada da busca de nós, de nos encontramo-nos em atitude de heroísmo. Como se sozinhos conquistássemos o mundo, nosso-interior, ou todo o outro exterior que não nos pertence. Precisamos do outro e do Outro. Precisamos de nos abrir ao sentido de comunidade, de que somos sendo com os outros. 


Parafraseando Daniel Faria, o lugar de que sou é feito de outros. Tenho-me encontrado nessa verdade crua de mim, do meu sentir mais profundo. E precisamos cada vez mais da claridade da verdade, da liberdade, do encontro, do perdão, do sentido do outro e do Outro. Sejamos Luz. Sejamos Paz.


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