terça-feira, 22 de março de 2022

Deus é amor


[Breves notas muito pessoais] Ainda criança, não me recordo se li numa história ou alguém me disse, comecei a pedir três desejos ao ver a primeira estrela da noite. Assim o fazia. E de vez em quando ainda o faço. Dois dos desejos foram mudando ao longo dos tempos, mas há um que se mantém: que haja paz no mundo. Olhava a estrela, fechava os olhos e pedia os desejos. Hoje, sorrio, na inocência que ecoa da aprendizagem de criança, e peço apenas esse que é um continuo: que haja paz no mundo.


O conhecimento, em trabalho pessoal, leituras e estudos, formações, liberta a ingenuidade. Acredito que seja possível a paz. Ainda há pouco, a celebrar com a tão bonita oração eucarística para as missas da reconciliação, ecoava-me forte esse desejo de paz. Mas não no etéreo. Sentia-o alimentado pelo Evangelho de hoje: perdoar até 70 x 7. Durante muito tempo pensei ser isto impossível. Com o trabalho pessoal de sanar as feridas, de reconciliar-me, visitando lugares de memória doloridos, aceitando as acções feitas ou palavras ditas, sobretudo tendo sido erradas, atravessando os meus lugares mais sombrios com essa luz límpida da verdade, dou-me conta que o impossível torna-se possível. O perdão vai suavemente brotando, surgindo a pacificação de coração.


Isto é exigente. Ao reler o que escrevi, parece fácil. Bem, curiosamente, mais que fácil, é simples, pois Deus é simples. Mas exigente. Estamos envolvidos por tantos filtros e por tantos ruídos, que ganhar coragem para a libertação até ao perdão também implica ajuda divina. Começa pela respiração, na consciência do aqui e do agora, e depois a enfrentar os muitos auto-enganos, mentiras, que nos colocaram e colocamos, para sermos aceites ou bem vistos social e religiosamente. A nossa integridade começa em nós mesmos, desmontando imagens de deus castrador, punitivo, tomando consciência de quem somos, simplesmente, sem véus. Até ao Deus Amor.


É a nudez do paraíso. Já não ingénua. Mas consciente de que, como adultos na maturidade da fé, depois do longo caminho feito de sombras atravessadas de luz, temos o poder de libertar, de amar e de perdoar. Está nas nossas mãos a responsabilidade da decisão. Sejamos Luz. Sejamos Paz.


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