Nuno Gonçalves
[Secção pensamentos soltos em dia dos consagrados] Tracei este dia na agenda para ser de descanso. Mais uns minutos na cama pela manhã, oração prolongada, leituras, afazeres de ministro (sim, sou, mas sem assento parlamentar. É um serviço comunitário), passeio pelo bosque, sesta longa, Missa, telefonemas e mensagens, daqui a pouco breve oração e dormir. Ah, comi. Ainda não vivo do ar. Se bem que quando vivia no ar, ouvi: “ah, vocês também comem?” Voltando a hoje, deu para pensar nisto de ser consagrado. E de tantas perguntas que surgem sobre a vocação religiosa. Fará sentido nos dias actuais?
A minha resposta é claramente óbvia. Sim. Entregar a vida totalmente, em comunidade, é um desafio tal como outras vocações. Se bem que, em particular como jesuíta, implica a disponibilidade de coração e de acção. E isso acarreta muito de vida, onde o tempo tem outra dimensão, impensável e impraticável caso tivesse família. Ainda assim, o alicerce profundo é o da espiritualidade. A relação com Deus que nos desafia à liberdade nesse serviço maior a quem mais precisa. Também atravessamos contradições, lutas interiores, silêncios e buscas de maior autenticidade, para podermos testemunhar Deus que nos quer a todos adultos na fé, com alegria. Em tempos, falava-se da vida religiosa como a perfeita caridade. Tenho dificuldade com o termo. A imperfeição também me, atrevo-me ao plural, nos corre nas veias. E ainda bem. Além de ver muita perfeição noutras vocações, a imperfeição torna-me mais próximo e empático com as vidas que acompanho. Pois, é bom deixarmos a comparação de a-minha-vida-é-melhor-que-a-tua.
A decisão da vida religiosa tem mesmo de ser atravessada de confiança no chamamento por Deus. Dá-se sensação profunda de realização interior, que se manifesta, apesar de todos os cansaços, com a paz que nos descansa. O importante: tomar consciência de que somos colaboradores de humanidade e divindade, a sermos luz e alegria para o caminho de quem de nós se aproxima, apontando na direcção daquEle que vive a amar. Afinal, há que nos choc…, perdão, animar com amor e humor a vida uns dos outros.
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