[Apontamentos soltos enquanto caminho a sentir a chuva e a ver o sol em dia intenso de Vida] Ryuichi Sakamoto compôs “fullmoon” depois de a vida tê-lo obrigado, por questões de saúde, a pensar seriamente no que importa. Escreveu: “Como não sabemos quando vamos morrer, podemos pensar na vida como um poço sem fundo. No entanto, tudo acontece apenas um certo número de vezes. E um número muito pequeno, realmente. Quantas vezes mais recordarás uma certa tarde da tua infância. Alguma tarde que faz parte tão profundamente do teu ser que nem consegues conceber a tua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes mais. Talvez nem isso. Quantas vezes mais vais assistir a lua cheia nascer? Talvez vinte e ainda assim tudo parece ilimitado.”
Respiro.
Os aguaceiros têm este poder de deixar um brilho no ar quando as nuvens se afastam.
Fico em silêncio.
O tempo detém-se nestes momentos. E, sim, recordo tardes marcantes, rostos que falam de vida, a surpresa da beleza da lua cheia ou do pôr-de-sol, as conversas boas que constroem os passos que compõem o ser, as paixões e os amores, os abraços trocados em luz renovada, a esperança de algo novo. E se de repente tudo expande, logo logo tudo diminui em pequena semente.
O pequeno torna-se lugar de oração.
Para quando tudo oscila no sentido, aí possamos encontrar o limite que nos descasca filtros, véus, mistérios, encaminhando para uma nova luz. E Deus revela-se: na simplicidade, no amor.
Respiro.
Fico em silêncio.
Detém-se o tempo para poder contemplar e agradecer.
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