[Secção sentimentos em pensamentos soltos sobre o dia de hoje] Emocionei-me naqueles breves segundos que me detiveram no tempo existencial a pousar o boletim de voto sobre a mesa, a pôr a cruz, dobrá-lo e colocá-lo no envelope branco. Ainda desponta a lágrima a escrever estas palavras. Reconheço a força do simbólico. Mais do que o meu voto, tanto significa: milhares de homens e mulheres lutaram por este direito; a liberdade que tenho de poder escolher em consciência quem considero com maior aptidão é resultado de muita história, mortes inclusive; votar é honrar e agradecer estas pessoas e, ainda acredito, aviva a esperança no futuro de seguirmos o caminho de liberdade.
Como padre não posso manifestar qualquer intenção de voto. Mas tenho o dever de incentivar a esta participação de democracia. E tenho um gosto imenso em fazê-lo. Somos corpo em Corpo e todos, por mais que seja indiferente ou não importe a alguém, dependemos directa e indirectamente uns dos outros. Ainda há muito caminho a ser feito para se compreender esta unidade e colaboração. O meu gesto, seja de voto, seja de ficar em casa, tem implicações no todo. Compreendo o sentir de “é tudo uma fantochada”, “eles são todos iguais”, mas se se descarta esse pequeno e enorme gesto de votar, está-se a anular enquanto pessoa que, recordando Ricardo Reis, no mínimo pode pôr o tudo que é e o todo que rodeia.
Depois de votar celebrei Missa. Trouxe ao coração todas as pessoas em sofrimento. Agradeci a liberdade, a responsabilidade, os direitos e os deveres, em humanidade, pedindo a consciência da Vida em todas as cores, apelando a que nos ajudemos mesmo uns aos outros. Nos tempos que atravessamos, a simplicidade presente no gesto do voto e no ficar em casa são sinais de respeito, de cuidado, de maturidade, de humanidade.
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