domingo, 29 de março de 2020

Regra de Ouro




[Secção pensamentos soltos sobre as emoções] Jesus comoveu-se e chorou com a morte do amigo. Não me parece que tivesse falta de fé na vida. Simplesmente deixava-se atravessar pelas emoções. É natural sentir dor, angústia, tristeza, raiva, ira, ódio, tristeza, medo, em especial em tempos de adversidade. A questão é saber lidar com isso. A normalidade vem com a educação não apenas intelectual, mas emocional.

Somos muito mais educados no intelecto do que na emoção. Por isso, para muitos de nós é impensável que ainda possa haver gente a sair de casa como se nada fosse ou, em cúmulo, seguir de viagem para outras paragens a aproveitar as férias de Páscoa como sempre assim foi. No entanto, sim, há pessoas alheadas da realidade, até com altos cargos, numa impassibilidade que as leva a viver como sempre foi. Estes últimos consideram que tudo é conversa da treta, até eventualmente serem expostos a uma brutal carga emocional (em extremo a morte de alguém próximo que até foi contagiada por si, que é assintomático). Outros, carregados pelo medo, com frustração, cansaço, arremessam a agressividade pelas palavras (e provavelmente com os gestos, caso os apanhassem a jeito). Devo dizer que me situo num misto de luz, agradecido pelas muitas pessoas que estão a tanto custo em casa, e de sombra, triste por aqueles que ainda não perceberam a gravidade destes tempos novos e da repercussão das suas decisões desligadas de sentido do outro.


Dói-me, sim, ainda mais quando são expostas em perigo as pessoas dos meus queridos Alentejo e Algarve, mas não me adianta entrar em fúrias, nem sequer me alegro se forem contagiados devido à irresponsabilidade dos actos. Por um lado, registo para que se perceba com objectividade o tanto que ainda há a fazer, mais que da compreensão intelectual, na compreensão emocional, promovendo o sentido de respeito e cuidado pelo outro. Por outro, peço a Jesus que me ajude a ser como Ele, emocionalmente sábio, e à abertura de consciência de todas as pessoas para a exigente regra de ouro transversal a todas as culturas: faz aos outros o que gostarias que te fizessem. Afinal, estamos todos muito mais ligados do que imaginamos.

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