[Secção pensamentos soltos sobre violência e paternalismo] Há tempos uma amiga comentava que deveríamos ter alguns dias de tristeza por ano. Concentrada ou espalhada em dias, é necessário dar tempo e espaço à tristeza. É o que me acontece. Atenção, estar triste não significa estar com falta de esperança. Estou triste por, apesar das inúmeras maravilhas, naturais e humanas, que encontramos no mundo, falta tanto amor-próprio que desemboca em falta de empatia, respeito e cuidado com o outro.
Há cansaço generalizado, ficando-se tudo pela superficialidade tanto do choque emocional, como no entretenimento impeditivo de grandes e necessárias reflexões pessoais e sociais. São notórias as fobias a aumentar, levando a violências de brutalidade assassina de dignidade e de vidas. As guerras não são só nacionais ou internacionais. As guerras começam nos conflitos e tensões, que todos sem excepção vivemos. O choque da existência do outro começa desde cedo. O instinto de sobrevivência está lá. Mesmo sendo seres de convivência, o outro, num primeiro momento, é estranho. A aprendizagem consiste em descobrir a diferença e saber integrá-la. Não nos enganemos: não é fácil. No entanto, é imprescindível esse caminho para sair de auto-centramento e crescer em maturidade. É exigente este caminho, onde se vão deixando as pulsões de criança, de adolescente, levando à adultez nos actos e palavras. Para este crescimento acontecer é fundamental a autoridade. Não confundir com autoritarismo. A figura do sábio, do líder, é aquele que fez o caminho interior de maturidade e orienta para a liberdade. Não confundir com libertinagem. O que acontece na actualidade é a falta de líderes, o que faz crescer o autoritarismo que, entre outras coisas, resvala em paternalismo e libertinagem. Começando por esta última, a libertinagem é reacção a toda e qualquer sensação de opressão. Poderia dizer que é passo de desejo de sentir liberdade, mas disparatando energia de crescimento em birra. O problema são as que desembocam em tal violência que leva à perda da razão pelas quais se está a a manifestar. Partir tudo em nome do fim da violência, só gera mais violência. Criticar agressivamente a agressividade política ou religiosa, só gera mais agressividade. O autoritarismo acontece quando alguém aproveita o crescendo de violência e agressividade. Infelizmente, estando rodeado de sombra e mais a desejando em nome do poder, ainda faz aumentar mais as fobias gerando mais violência e agressividade. Depois, paternalisticamente, censura, corta, anula, todo o tipo de crítica.
Defendo então uma passividade ingénua ou masoquista? Nem pensar. Então, a meu ver, o que é preciso? 1. Amor-próprio, alicerçado na autenticidade e honestidade, em caminho de consciência dos conflitos/tensões pessoais a serem integrados ou dissipados. Diminuindo em especial a projecção em bodes expiatórios do “mau” que o outro é. 2. Tempo de escuta pessoal, de modo a perceber quais são os conflitos/tensões pessoais. 3. Saber reconhecer a fragilidade, de modo a pedir ajuda no caminho da estabilidade interior, permitindo-me recuperar forças para poder sensatamente dar respostas activas e não reactivas.
“Dar a outra face” não é uma resposta masoquista de continuidade da violência, é dar outra perspectiva que anule a violência. A violência e o paternalismo não são, nem nunca serão respostas de vida. Quanto muito, e ainda assim tenho muitas dúvidas, de sobrevivência. Se queremos humanizar, cada um, cada uma de nós necessita crescer em maturidade, levando a desenvolver empatia, respeito e cuidado com o outro. Estes desenvolvimentos, começando desde as relações quotidianas expandirá para o mundo.
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