Massimo Pinca/Reuters
[Secção pensamentos soltos a partir de Martin Luther King,jr e Cristiano Ronaldo] Faz 50 anos que Martin Luther King foi assassinado. Cristiano Ronaldo marcou ontem, bastante noticiado hoje, um grande, senão o melhor golo da sua carreira. Este dois acontecimentos, à distância de 50 anos, são de registo. Alguém que lutou pela paz, promovendo o fim do racismo, mostrando a igualdade na dignidade humana, que vai para além de qualquer cor, foi assassinado pelas suas convicções. É conhecido o seu “I have a dream”, repetido com veemência no famoso discurso na Marcha para Washington, apelando ao fim da escravidão racial, com muitos pontos de não-violência. Como Cristão, sabia bem o que era dar a outra face, não em masoquismo sem-sentido, mas em nova perspectiva. Combater o mal com o mal, apenas acrescenta mal e nada se resolve. Sendo o mais fácil, é o mais destrutivo. A vida de MLK é atravessada por desafios, em medo e angústia, em conjunto com a certeza de que é possível humanizar pela paz. Morreu assassinado. Mas, a sua marca, apelando ao fim do racismo que infelizmente ainda assola a humanidade em tantos cantos do mundo, continua a fazer eco até que o sonho de que alguém seja apenas julgado pelo carácter e não por qualquer característica física se torne totalmente realidade. E ontem, graças ao extraordinário golo, todo um estádio levantou-se a aplaudir Cristiano Ronaldo. Eu que não ligo a futebol, vi por mero acaso em directo todo o passe que levou ao golo. Mesmo percebendo muito pouco deste desporto, constato facilmente que não foi somente sorte. Resulta de trabalho pessoal, até chegar àquele momento. Dá-se o golo e deixa de haver adversários, para haver admiradores de futebol, quebrando-se assim barreiras. Por breves segundos, realizou-se o sonho de unidade. Ronaldo agradeceu o gesto. Dá-se exemplo de humanidade que consegue conviver para além de qualquer divisão. Tudo é demasiado simbólico, certo. Contudo, que o sonho de humanização, de paz, de não-violência, possa passar de breves segundos para todo o tempo e todos nos possamos aplaudir mutuamente.
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