segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Humanizar


Norbert Fritz
[Secção desabafos] Nestes últimos dias tem-se assistido à agressividade a crescer nas palavras, ditas e/ou escritas. Anula-se, mata-se, chacina-se, a uma velocidade ultra-sónica. O argumento ad hominem, onde se ataca a pessoa e não a ideia ou posição apresentada, é o mais fácil a ser usado… aliás, pessoas que deveriam ser modelo, pelos cargos que ocupam ou vão ocupar, usam-no de forma leviana e natural. Da esquerda à direita, fala-se de valores de humanismo, etc. e tal, e depois o que surge é a animalidade reaccionária. Deseja-se, quer-se, impõe-se o mundo melhor, mas tem de ser ao “meu modo”, de uma só cor… que depois, seja qual a imposta, se torna bastante escura. Subtilmente, acontece o estranho fenómeno: “sou tão anti-fundamentalista que por mim todos os fundamentalistas devem morrer”. Ao ler comentários, notícias, posts reaccionários pelas redes sociais fora, tento fazer silêncio para acalmar o ruído que se gera. Depois, levo para a oração e para a missa, e assim, no que me é possível, anular os efeitos dessa agressividade crescente. Como? Pela escuta das minhas emoções sobre temas que me são sensíveis e com os quais fico incomodado pelo que escuto ou leio, independentemente se as pessoas que os dizem são dos meus grupos ou não. Há que ir ganhando liberdade interior para não cair em defesas do indefensável, e não cair no perigo de incoerência ou hipocrisia nos gestos. Aí entra o diálogo entre a emoção e a razão. As grandes ditaduras, os nacionalismos, crescem, entre outras coisas, porque a emoção do medo ganha espaço e tempo no indivíduo e no colectivo. Não sabendo dialogar com essa emoção, ataca-se ferozmente ou refugia-se em seguranças doutrinais (políticas ou religiosas) em que se vê o outro que pensa diferente como alvo a abater. Há pessoas com que, de todo, não me apetece, nem quero, ir "tomar café", mas isso não significa que lhes deseje a morte. A grande inimiga do ser humano, dos seus valores de tolerância, respeito, para além das crenças que cada qual vive, é a ignorância. E essa vai-se anulando pelo exercício da escuta autêntica de nós próprios e do que nos rodeia, em boas conversas e aprendizagem, onde se toma consciência de que em cada um de nós existem, quer se queira ou não, todas as cores, com os seus muitos tons.

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