quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Amor que não esquece




Hideki Mizuta


Das muitas referências do amor de Deus, há uma, no livro de Isaías, que me tem dado que pensar: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu [diz o Senhor] nunca te esqueceria.” Para quem tem e vive o amor pelos seus filhos, é impensável este esquecimento, em modo de negligência. No entanto, o pormenor da ressalva mostra que é possível acontecer. E acontece. Crianças e adolescentes que crescem a partir da triste motivação de que a vida se consegue pelos gritos, pela violência ou, por si, esquecidos desse afecto fundamental para a resiliência e sentido de vida, esperam, sem se aperceber, atenção a partir da violência e agressividade. Hoje, um aluno, num acesso de raiva, saiu-se com esta: “Estou farto desta escola. Toda a gente se preocupa comigo.” Sem mais, abracei-o. Senti os seus braços a descaírem nos ombros… e os soluços de choro. Não dissemos mais nada. Muitas vezes tem de sair o raspanete, mas… vou ganhando a sensibilidade para perceber que esse modo de funcionar já lhes está quase tatuado na alma. Há alunos, melhor, pessoas, a quem o raspanete, castigo, etc., já não funciona. O que os baralha mesmo é sentirem-se amados como pessoas, em gestos que mostram não serem esquecidos.

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