Teresa Lamas Serra
[Secção pensamentos soltos sobre educação] Desde que comecei a ser professor fui-me aprofundando o que significa educar. Dá-se o dever de transmitir conhecimentos, avaliados pelos testes ou exames. Até aqui, nada de novo. No entanto, também há a parte, em colaboração com a família, de transmitir valores, ideais e convites ao pensamento existencial, que pouco ou nada são avaliados nos tais testes ou exames, mas bastante ou totalmente na vida. Educar implica ajudar a formar, a crescer, intelectual e humanamente. É fácil perceber que nenhuma educação é neutra. Digo muitas vezes aos meu alunos, em especial aos mais velhos e aos que me dizem não crer em Deus, que o meu primeiro interesse não é que sejam crentes, mas que saibam pensar, colocar questões à realidade, não se deixando influenciar por qualquer tipo de ideologia. A fé quer-se pensada, implicando até mesmo “lutas de entranhas” com Deus. E sim, digo isto numa escola católica, com contrato de associação, ou seja, que presta serviço público a uma comunidade bastante alargada. Por aqui, nas Caldinhas, estudam quase 3000 alunos, que não pagam para cá estudar. Tal como os quase 900 que estudam no CAIC, em Cernache. Os jesuítas sempre primaram pela educação. Antes das nossas expulsões, chegámos a ter uma rede escolar por todo o país, em que ensinávamos a muitos que nunca teriam condições de estudar. Hoje em dia, felizmente pela evolução do sentido dos Direitos Humanos, estudar é um direito assistido a toda a pessoa. No entanto, esse direito nem sempre é bem posto em prática. Não basta pôr um aluno numa escola, de modo a aliviar a consciência estatal a partir de números. É preciso acompanhar situações difíceis, ajudando o aluno, e muitas vezes o resto da família, para além do académico. Diria, a função social do educar, não só presente na preocupação dos educadores, como também transmitida aos nossos alunos. Algo muito característico da nossa pedagogia é ajudar a que quem estude connosco possa crescer intelectual e humanamente. Por exemplo, esta semana, um grupo alunos do 11.º e 12.º anos está a viver literalmente na escola, onde passa por uma experiência de comunidade para além das aulas. Educa-se no estudo durante a manhã e tarde. De seguida, educa-se no serviço, nas tarefas comuns, na partilha, na escuta, uns dos outros e também de Deus. É fácil perceber que nenhuma educação é neutra. No entanto, toda ela deve ser convite à liberdade e ao crescimento para além de qualquer ideologia.
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