sábado, 5 de novembro de 2011

Concílio Vaticano II


Estou a (re)ler o Concílio Vaticano II (CVII).

Já lá vão tempos, bastantes anos até, que vivia uma profunda crítica e revolta com a Igreja, pedindo um CVIII. Não tinha o mínimo de noção do que estava a dizer, pois ainda não tinha lido uma página do CVII. Agora, ao saber um pouco da intuição de João XXIII ao convocá-lo, as reflexões dos teólogos que nele participaram, os textos que saíram, fico impressionado com a grandeza destes textos.

São um grande desafio para nós, membros da Igreja Católica, sobretudo à escuta da sociedade, a olhar o mundo, não como uma realidade má por essência, mas um caminho onde também podemos aprender. No fundo, a viver uma adaptação à mudança que se está a viver. A adaptação não significa perder a identidade, mas sim, aprofundá-la com outras perspectivas.

Deixo um pequeno exemplo:

Gaudium et Spes (Alegrias e Esperanças), n.º 59. 
Pelas razões aduzidas, a Igreja lembra a todos que a cultura deve orientar-se para a perfeição integral da pessoa humana, para o bem da comunidade e de toda a sociedade. Por isso, é necessário cultivar o espírito de modo a desenvolver-lhe a capacidade de admirar, de intuir, de contemplar, de formar um juízo pessoal e de cultivar o sentido religioso, moral e social.

Pois a cultura, uma vez que deriva imediatamente da natureza racional e social do ser humano, tem uma constante necessidade de justa liberdade e de legítima autonomia, de agir segundo os seus próprios princípios para se desenvolver. Com razão, pois, exige ser respeitada e goza duma certa inviolabilidade, salvaguardados, evidentemente, os direitos da pessoa e da comunidade, particular ou universal, dentro dos limites do bem comum.

O sagrado Concílio, recordando o que ensinou o primeiro Concílio do Vaticano, declara que existem «duas ordens de conhecimento» distintas, a da fé e a da razão, e que a Igreja de modo algum proíbe que «as artes e disciplinas humanas usem de princípios e métodos próprios nos seus campos respectivos»; «reconhecendo esta justa liberdade», afirma por isso a legítima autonomia da cultura humana e sobretudo das ciências.

Tudo isto requer também que, salvaguardados a ordem moral e o bem comum, o ser humano possa investigar livremente a verdade, expor e divulgar a sua opinião e dedicar-se a qualquer arte; isto postula, finalmente, que seja informado com verdade dos acontecimentos públicos.

À autoridade pública pertence não determinar o carácter próprio das formas de cultura, mas favorecer as condições e as ajudas necessárias para o desenvolvimento cultural de todos, mesmo das minorias de alguma nação. Deve, por isso, insistir-se, antes de mais, para que a cultura, desviando-se do seu fim, não seja obrigada a servir as forças políticas ou económicas.


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