sábado, 9 de agosto de 2008

Baile de Outono, um filme estónio


Um pouco por acaso, fui ver o filme estónio Baile de Outono, do realizador Veiko Õunpuu. Tinha curiosidade por espreitar esse mundo que faz parte da nossa Europa alargada e o filme anunciava-se com alguns galardões. Além disso gosto de ir ao cinema King, com o seu ar decrépito e aquela teima em ter sempre filmes diferentes e de qualidade, a contrastar com o conforto mínimo da sala.
Não me arrependi. O filme é triste, passa-se num bairro social nos arredores de Tallin, uma ilhota isolada de prédios escalavrados, todos iguais, ruas desleixadas e pessoas pobres, uma espécie de náufragos que insistem em sobreviver apesar de não verem horizonte a que aportem. Sobras da era soviética, poderíamos nós pensar, se o consolo fosse o de encontrarmos muitas diferenças noutras eras e noutros territórios sem esse passado, mas não é difícil lembrar logo outras imagens de outros bairros iguais, e o filme passa assim a contar pedaços da história de pessoas um qualquer bairro social, relegado para as franjas das cidades laboriosas e prósperas, cheias de néons e automóveis e sem a palidez e os fatos puídos das operárias.
O filme conta-nos várias histórias cruzadas de pessoas atormentadas pela solidão, pela incapacidade de romper o seu destino mas também pela cobardia de uns, pela maldade de outros, pela vaidade dos que que querem viver ali para se sentirem superiores aos que os rodeiam, miséria máxima, porque é a indigência moral ou a soberba intelectual. Todos, de uma maneira ou de outra, presos nos seus casulos, o de cimento e o outro, o que construiram dentro dessas paredes escalavradas. O jovem escritor, o velho barbeiro, a mãe solteira, os homens bêbados, o arquitecto pretensioso e fútil, o empregado do bengaleiro. Em todos, a força e a fraqueza mas o retrato é muito impiedoso para os homens, pesos ou perigos para as mulheres, lutadoras silenciosas, engolindo a sua ambição para cuidar do pouco que ainda pode tornar a vida suportável ou, no mínimo, garantir a sobrevivência dos que amam.
Como diz o escritor à mulher que reclama que apenas priocura ser feliz "tens consciência de que cada uma das pessoas que vive nestes buracos só quer isso mesmo, um pouco de felicidade?"
Um filme difícil de ver mas belo, à sua maneira. Vale bem a pena.

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