quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

"Vai a Igreja agir?"


[Foto: Luís Câmara, in olhares.com]

No passado Domingo foi publicado no JN um artigo do P. Alfredo Dinis,sj, sobre a Carta de Bento XVI aos bispos portugueses. Se há quem pense que nós, Igreja, temos medo de colocar algumas questões, este artigo vai contradizer esses eventuais pensamentos... De facto, está na altura de reflectir, sim, mas também de "agir"...

"O texto da recente mensagem do Papa aos bispos portugueses tem sido interpretado de diversas formas. Muitos comentadores têm sublinhado o carácter crítico do texto papal em relação à Igreja portuguesa. Outros, incluindo os próprios bispos, vêem naquele texto um encorajamento que receberam para continuar um caminho de inovação que sempre desejaram percorrer, mas que encontra não poucos obstáculos. Independentemente das diferenças de leitura do texto, todos parecem estar de acordo com um facto os cristãos portugueses - leigos, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas -, não podem continuar a trilhar simplesmente os caminhos do passado, a manter acriticamente as tradições dos seus antepassados simplesmente por serem tradições, a investir tempo, energias e dinheiro em manifestações de religiosidade que tocam quase só a esfera emocional, devocional e intimista, mas deixam intocada a dimensão da responsabilização pela transformação do Mundo, uma responsabilização que torne insuportável a existência da injustiça, da discriminação, da pobreza e da mentira."

"Algumas pessoas começaram já a perguntar vai tudo ficar na mesma, depois do discurso do Papa? Vai a Igreja agir? Quem vai fazer alguma coisa para que alguma coisa mude, realmente? Serão apenas os bispos? Serão apenas os padres? Se assim fosse, estaríamos a contradizer o Papa, que pede um maior envolvimento dos leigos na vida da Igreja. Há pois que fazer uma reflexão comunitária séria sobre a Igreja que somos e sobre a Igreja que queremos ser. Há decisões a tomar. Há mudanças que é urgente fazer. Há questões que não devemos recear levantar, pelas quais nos devemos deixar desafiar permanentemente. Por exemplo: [remeto para o artigo, porque são várias as questões colocadas pelo P. Alfredo].

Gostaria de ouvir/ler algumas opiniões. É importante que se diga, de forma construtiva, o que se sente sobre isto. Às vezes diz-se que a homilia ou acção deste ou daquele padre, ou religiosa, foi má, mas depois não há coragem para lho dizer pessoalmente. Só se pode melhorar com ajuda uns dos outros!


1 comentário:

  1. Anónimo18:31

    A mensagem do Papa aos Bispos portugueses, durante a recente visita “ad limina”, é para a generalidade das pessoas que está fora da vida diária da Igreja uma crítica à hierarquia, uma culpabilização pela falta de prática religiosa dos cristãos, que se refere pelo menor número de presenças na Missa, menor número dos que acorrem aos sacramentos, nomeadamente o Baptismo e o Matrimónio, menor número de vocações sacerdotais e religiosas, em comparação com as manifestações populares de Fé.
    É culpa da Hierarquia portuguesa? É culpa dos leigos nacionais que não assumem as suas responsabilidades? Ou é, sobretudo, culpa da Igreja Católica, Apostólica e Romana?
    Será difícil, num comentário, esgotar as respostas. Mas parece-me que a Hierarquia é culpada por não ter ainda aceite que a Igreja, embora hierarquizada, não é só ou sobretudo composta pelos Bispos, sacerdotes e religiosos, mas por todos os cristãos e continuar a dar pouco espaço aos leigos, não só na organização das comunidades mas na definição das orientações. É culpa dos leigos que não querem assumir o seu lugar. É, finalmente, culpa da Igreja universal que falando das manifestações tradicionais de Fé entre os cristãos, porventura mais emotiva, menos informada, também não abdica de posições tradicionais em áreas difíceis, mas que tocam o dia a dia das pessoas, numa atitude de incompreensão perante o mundo em que vivemos, com respostas positivas para esse novo mundo, para essas pessoas. Falo de problemas tão diversos como a falta de liberdade e a pobreza, sem as quais a dignidade do Homem está amputada, a intolerância, a discriminação, a rigidez da moral sexual que parece preferir a morte por HIV do que o uso do preservativo (impondo como único remédio a abstinência), o nascimento de filhos indesejados ao uso de métodos contraceptivos cientificamente menos falíveis do que os de Ogino-Knauss ou das temperaturas, considerados “naturais”, ou a, de facto, condenação da homossexualidade, disfarçada de caridosa compreensão e, mesmo assim, com a obrigatoriedade de total castidade e eterna culpabilização pela culpa que não existe ou o celibato dos padres ou a obrigatoriedade do afastamento dos sacramentos dos que, quase sempre por razões difíceis e dolorosas, se divorciaram.
    Só uma mudança radical da forma de entendimento do mundo actual por parte da Igreja pode levar a mudanças profundas. Se a Igreja não quer tornar-se numa organização residual, fechada sobre si própria. E se continuar a esquecer-se que Deus é, antes do mais misericordioso e julga pelo Amor que enferma ou não a vida de cada um dos seus filhos. Jesus viveu e morreu por esse Amor e a amar e não a condenar.

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