Fiquei curiosa por uma referência feita por um.insecto (Morgado Louro, 13 de Março) ao filme "Diário de um Escândalo" e aproveitei um sábado mais pachorrento para ir lá ver.
Levei algum tempo até perceber porque é que não gostei do filme.
A interpretação é boa, não tem cenas inutilmente chocantes, tem até uma densidade interessante, ou seja, é menos explícito do que a história sugere.
Começa por ter alguma ambição, com o diálogo que alerta para o tal vazio (mind the gap) e nos deixa na expectativa de ver tratado esse tema escorregadio que é a distância entre o que queríamos ser e o que apenas conseguimos.
Depois, é uma desilusão, porque não chega nem perto mas finge que chega.
Se fosse só uma história contada, uma mulher insatisfeita com a sua vida adulta que procura num adolescente seu aluno as emoções que perdeu; e uma mulher já envelhecida que julga que o amor é apoderar-se de alguém, seja quem for e como for; tudo misturado num escândalo de bairro a que não falta nenhum cliché da actualidade; se fosse, dizia eu, não passaria de um episódio da vida, como outro qualquer.
O que a torna imoral é o equívoco de vitimizações, que pretendem desculpar o indesculpável, é o contexto do "mind the gap", argumento cobarde para explicar um contexto de desamores, em que cada um se dispõe a sacrificar o outro a caprichos do momento, como se fossem objectos de usar e deitar fora.
O que detestei foi a absoluta ausência de afectos entre os personagens, mascarada de insatisfação ou frustração. Um equívoco perigoso. Quem não tem para dar, não pode pedir, nem esperar receber. É um gap grande demais para se sublimar com asneiras.
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