quarta-feira, 27 de abril de 2022

A beleza do concreto


[Secção coisas de nada] Depois de algumas conversas, dou um pequeno passeio pela quinta. Enquanto penso no que escutei, entregando a Deus cada pessoa, detenho-me nos pormenores. Pode ser a cor das flores, um ramo, uma teia de aranha. Desta vez, foram as gotas sobre as pétalas. Pablo d’Ors, no Biografia do Silêncio, escreve que o silêncio leva-nos à aceitação da vida tal qual é. E é tão difícil. Aceita-se facilmente as gotas nas pétalas: é óbvio. Mas apercebo-me da dificuldade em aceitar sobretudo o que não se gosta em nós, na família, nas relações. Idealiza-se e fica-se frustrado por tal não ser assim. Depois há o que chamo o duplo sofrimento: sofre-se porque algo está mal ou desajustado e sofre-se porque se sofre porque algo está mal ou desajustado. Isto é um gasto muito grande de energia emocional, até mesmo espiritual. O abstracto tem lugar na imaginação, na fantasia, importante para o simbólico, mas o concreto é, passe a redundância, o que é. Há a libertar o sofrimento porque se sofre e deter-se no que realmente faz sofrer para perceber o que posso fazer para integrar, curar, libertar. Desde os problemas com a família à riqueza dos dons pessoais, é na aceitação do que é que se dá passos de transformação. A natureza não idealiza, vive a beleza do concreto, no aqui e no agora. Agradeci o momento de beleza e segui caminho.


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