[Notas soltas sobre paternidade espiritual] Voltei a esta fotografia. Tirei-a nos meus dias de silêncio, em Exercícios. Fiquei parado a ver a flor de amendoeira. Reluzia com a subtileza do seu diálogo com os raios de sol. Pequena. Como um floco de neve. Recordei a lenda algarvia. Enquanto isso, no coração latejava esta passagem proposta para a oração, do profeta Jeremias: “Em seguida, o Senhor estendeu a sua mão, tocou-me nos lábios e disse-me: ‘Eis que ponho as minhas palavras na tua boca; a partir de hoje, dou-te poder sobre os povos e sobre os reinos, para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e plantares.’ Depois foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: ‘Que vês, Jeremias?’ E eu respondi: ‘Vejo um ramo de amendoeira.’ ‘Viste bem - disse-me o Senhor - porque Eu vigiarei sobre a minha palavra para a fazer cumprir.’”
Recordo a sensação em mim enquanto rezava. Pequeno. Como a flor. Em luz e sombra. São tantas as vezes que peço a humildade a Deus, sabendo que Ele cumpre a Sua palavra. Como padre tenho imenso poder nas mãos. No olhar. No escutar. No falar. No agir. Atravessa-me mesmo a pequenez e a delicadeza da flor, com toda a responsabilidade que simbolicamente traz. Estes dias tenho-me emocionado, quando confirmo que só podemos viver a vocação com e por Deus.
Quando escutamos a fragilidade de alguém, temos a sua vida nas mãos. É grande a responsabilidade. Cuidar bem dessa vida só é possível se estivermos centrados no respeito e constantemente conscientes, com toda a humildade diante de Deus, do poder de arrancar e demolir, arruinar e destruir, edificar e plantar.
Por isso, é tão importante o silêncio. De pés no chão, a aprofundar raízes. A re-centrar o coração naquele que toca os lábios e o coração, sabendo que o poder é para O ajudar a que a Sua luz atravesse todas as sombras, em Primavera anunciada, naqueles e naquelas que confia a quem cuida espiritualmente. Na minha, nossa, pequenez, Ele engrandece nas suas vidas. Assim o creio. E as pétalas cairão dando lugar ao fruto.
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