segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O amor salva


[Secção Vida] “Faz um ano que nasci outra vez e foste tu que me salvaste.” A densidade do imenso que está nesta frase dita pelo meu pai, dirigida à minha mãe, enquanto conversávamos os três, é de me deixar em silêncio a contemplar. Há um ano, neste dia, fez-se silêncio de espera depois da notícia do AVC muito grave. O advento para uma nova realidade: de cada um, em especial do meu pai. Ao longo deste ano, tantas vezes pensei no que é mesmo importante, no onde faz sentido orientar a entrega, sabendo que Deus nos suporta na adversidade para sermos adultos de fé e de essência. Não duvido na resposta: o amor. 


Depois de 6 meses internado, nas várias instituições, com tanto sofrimento, misturado com desejo e força de recuperação, o amor do meu pai pela minha mãe moveu o seu ser a fazer o que aparentemente seria impossível: libertar-se da cadeira de rodas, andar, subir e descer escadas. Tem o sonho de voltar a ir à Fóia de bicicleta. Já esteve mais longe. Sim, o amor salva. 


E, permitam-me o orgulho, o amor dos meus pais um pelo outro tem sido exemplo de salvação, em caminho de cura, de reconhecimento que os votos de “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença” se encarnem de forma tão intensa como suporte na relação com desafios tão exigentes. A minha mãe cuida com a delicadeza de novo amanhecer, sentindo o cansaço e a vida. O meu pai, no conforto, entre muitas histórias da dureza daquele tempo sem visitas, conta esta: “pedia sempre três almofadas a mais para dormir. Porquê?, perguntavam. Uma para a perna não tombar. Outra para o braço não tombar. E outra para, com o braço bom, abraçar imaginando a minha Maria.” 


No silêncio contemplo a importância, beleza e força da Vida, desde o meu José e a minha Maria como exemplo de casal consagrado a serem sinal de amor enquanto olham o caminho partilhado nos desafios da vida. Sim, o amor, apoiado de esperança e fé, salva.


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