[Secção memórias e vida] Encontrei esta fotografia na casa dos meus pais. Tinha 18 anos. Pedi a uma fotógrafa profissional que me tirasse algumas fotografias com o intuito de concorrer a um concurso de moda. Intuito, porque não cheguei a concorrer. Recordo a sensação: vergonha. Afinal, pensava eu: “sou feio! Vão gozar ainda mais comigo.” Apesar de nesse tempo já ser bastante social, na organização de muitas actividades, por dentro ainda reinava a desconsideração provocada pelo ridicularizar, entre outras coisas, do meu nariz, das minhas orelhas, do meu vestir fora de moda, da minha timidez, pelo mau jogador de futebol, pela falta de macheza.
Mais de 20 anos depois, a olhar a foto, sorrio. É tanto o que passamos na vida. Tanto, mesmo. E as feridas, as sombras, as dores, podem ser atravessadas de nova luz. A direcção espiritual em conjunto com a psicoterapia, continuando ainda o trabalho pessoal desde corpo em movimento autêntico, ajudaram a libertar-me das angústias do passado e a caminhar cada vez mais com pés firmes de presente. Ainda assim, há ecos que subtilmente surgem. Há dias, partilhava com um bom amigo as vergonhas que ainda surgem desse tempo.
A aprendizagem: nos dias seguintes, fiz desse surgir os pontos de oração, sem julgar nada do aparecesse de memórias, sentimentos ou desejos: de que ou quem tens vergonha? E medo? E zanga? A quem gostarias de ter dito que amavas, mas não te sentias nem digno, nem capaz? As respostas afloraram luminosas. Fui entregando a Deus, permitindo o perdão. Vi o adolescente a sorrir. Aquietando-o, amei mais um pouco como adulto. Depois, senti o silêncio do novo nascer: “segue-Me! Continua a ajudar a quem te confio a fazer caminho até à beleza da Luz.”
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