domingo, 20 de junho de 2021

O imenso da existência



“Expansão da luz (centrípeta e centrífuga)” de Gino Severini, no Museu Thyssen-Bornemisza - Madrid


[Secção pensamentos soltos sobre a existência] Têm-me assolado perguntas sobre isto de existir. Do significado da nossa presença no mundo, nas relações, de como os rostos dos outros nos atravessam a alma, de como os nossos gestos podem ser de vida ou de morte, por vezes propositados, conscientes desse bem ou mal feito, outras tantas, talvez a maioria, inconscientes, resultados de aprendizagens de tanto, mas tanto que vivemos nos inumeráveis segundos da existência desde o primeiro grito a afirmar a nossa presença. E se há dias escrevia como me sinto pequeno, hoje, faço-o a dar conta do imenso que nos atravessa quotidianamente a vida. 


Jesus desafia os discípulos a atravessar para a outra margem. Detive-me neste versículo. A existência é uma travessia de margem para outra, onde a meio podem surgir tempestades, emocionais, de acontecimentos, que nos levam a sentir perdidos. Ainda mais quando somos bombardeados de exigências para ser perfeitamente adequados à sociedade que impele a nunca falhar, errar, cair, fraquejar. E como é impossível a todos e tudo agradar, há que fazer escolhas nessa travessia. Jesus aponta o caminho da liberdade: as tempestades perdem o poder quando somos cada vez mais consciente da força do imenso que somos, sem necessidade de comparar. 


Na nossa pequenez, a força no imenso que somos deve revelar os dons particulares, como na beleza de um arco-íris a atravessar a escuridão. Não somos conceitos, não somos categorias, não somos rótulos, somos pessoas chamadas a viver o amor. Como? Na travessia do perdão, de impedir que o nosso coração seja invadido de rancor, de pedir ajuda, se assim for necessário, para libertar de tudo o que impeça de ser e dar vida, recordando que temos nas mãos poder e todas as cores para criarmos uma existência plena de significado, para nós mesmos e para o mundo que nos rodeia. Há a perder o medo de fazer a travessia da existência. E o amor acontece.


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