domingo, 2 de maio de 2021

Maternidade


[Secção pensamentos soltos sobre maternidade] A vida nos seus começos é partilhada pelo cordão umbilical. Em pleno ventre de ambas pessoas trocam-se alimento, higiene e afecto. No que queremos de melhor enquanto humanos, sobretudo a ser publicável nas redes, é destacado com beleza. E que bom que assim sempre fosse. A maternidade é desafio de vínculo intenso, com tanta história a contar. E alegrias. E perguntas. E dúvidas. E medos. E transformação de vida. De mãe e filho(a).


Ao longo destes anos de acompanhamentos tenho-me apercebido da dificuldade de se cortarem cordões. Simbolicamente, claro. Quando Jesus diz que a mãe, irmãos, família é quem cumpre a vontade de Deus, soa a bruto e a desprezo. Será? Afinal a Sua mãe foi a que cumpriu essa vontade, apesar de todos os riscos sociais e religiosos, com possibilidade de apedrejamento. Então pode ser um elogio. Mas, mais que o elogio, é alertar-nos para a capacidade de fazermos caminho de permitir a transformação de vida acontecer em liberdade. É por isso que não se tem filhos: é-se mãe, é-se pai. E, claro, é-se filho(a). O Amor, no seu sentido profundo, implica a liberdade sem qualquer posse do outro. A pedagogia do crescimento mostra o aconchego do abraço, tão fundamental no nascer, com a presença que se vai ajustando com a passagem do tempo cronológico e a consciência do tempo existencial. Sim, é-se mãe, pai, filho(a) para sempre. Mas sem a fatalidade da imposição do que for, com a responsabilidade de propor valores que continuem os passos de humanização da pessoa e de quem a rodeia. 


Todos, realmente ou em desejo, em sorriso ou em lágrimas, consideramos as nossas como as melhores mães do mundo. Todos, realmente ou em desejo, em sorriso ou em lágrimas, seremos os melhores filhos(as) do mundo. A grande homenagem que nos podemos fazer uns aos outros nesse ser melhores é mesmo irmos permitindo que o afecto recebido seja retribuído gratuitamente e que as dores de desamores sejam trabalhadas em direcção a maior compaixão. Então, os pódios deixam de fazer sentido e teremos oportunidade de nos sentarmos juntos a partilhar vidas, talentos, dons, em colaboração. Aí, a maternidade viverá entranhas e dádiva divinas. 


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