[Secção pensamentos soltos sobre abraços] Ia a conduzir. Em segurança, parei o carro para contemplar um abraço sentido. Ainda estive tentado em sair e agradecer. Apercebi-me que era claramente um reencontro entre duas amigas, com os sacos das compras na mão e, ali, em tempo parado, abraçadas. Tive pudor em tirar uma fotografia. E fiquei apenas a contemplar. Elas nem se aperceberam do carro. Notava-se mesmo o tempo em espera de esperança.
Estamos a necessitar de abraços. O momento que tive a felicidade de presenciar condensou todos esses desejos de reencontros e de abraçar, em silêncio, sem dizer nada mais a não ser a presença e aconchego de “senti tanto a tua falta”. Este tipo de momentos eram muito frequentes nos aeroportos. Nos tempos actuais, o longe tem sido tão perto, às vezes na diferença de ruas abaixo ou acima. O abraço traduz essa vontade de estarmos e percebermos que o outro é importante na nossa vida. Sim, podemos estar sós, mas o outro traz-nos a complementaridade da conversa, da história, da vida, das perspectivas que nos impedem de ficarmos fechados em bolhas. Há outros mais próximos. Há outros mais distantes. Todos, se estivermos de coração pronto para a escuta, são possibilidade de crescimento, do que queremos seguir, do que não faz sentido, do que pode acrescentar possibilidade a algo novo.
E viva a tecnologia. Mas, o toque de pele em abraço sentido humaniza-nos. Não somos mera imagética ou fantasia. Somos carne a falar desde o afecto que nos transforma o ser. Não me admira Deus ter sonhado, desejado, querido, assumir humanidade em carne. Nos abraços que deu passou-nos divindade. Nos abraços que damos, sentidos, com o tempo suspenso, transmitimos divino. Que cada abraço, como aquele abraço, seja oração.
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