quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Libertar a raiva




[Secção coisas de corpo]
- P. Paulo, tenho tanta raiva acumulada dentro de mim. Tanta! Sei que não é muito cristão, mas não tenho como evitar. 
- Ser muito cristão é ser verdadeiro. E se a sua verdade neste momento é a raiva que sente, ela tem de sair. Consegue partilhar o que provoca essa raiva?
- Custa. Custa muito. É um misto de vergonha e medo. Que vai pensar de mim?

- Percebo que isso pode inquietar. Também senti isso quando tinha de falar das minhas coisas com o meu director espiritual e quando fiz terapia. Mas, o meu interesse é ajudar. Não estou aqui para julgar, mas para ajudar a libertar no que me for possível.
- Agradeço-lhe, muito. É tão difícil.

[Conta algumas coisas que lhe provocaram e provocam raiva. Dou um abraço.]

- Tome esta almofada e atire-a com toda a força contra a parede ou para o chão. Pode gritar ou ficar em silêncio. Mas, atire-a. Vá atirando. Imagine que está a libertar-se de todas essas pessoas. Aqui e agora, neste espaço e neste tempo, tudo é possível. [Ponho uma música mais forte. Vai atirando a almofada com mais violência. Vão saindo os gritos de raiva e muitas lágrimas.] Aqui estou. Quando achar que está na altura de terminar, pouse a almofada na mesa. Faça-o com a solenidade de quem decide em consciência parar. [Pousa a almofada.] Proponho agora que se deite no chão. Peço-lhe que feche os olhos. Respire com tranquilidade. [As lágrimas deslizavam.] Tome o seu tempo. Permita-se sentir a possível paz, depois de tudo o que viveu.

[Passados uns minutos.]

- Agora entendo quando o evangelho fala da expulsão dos demónios. É tanto o que levamos dentro.

- Por isso, é preciso respeitar os tempos. Não há automatismos, há caminho.

- E há que fazê-lo para encontrar liberdade.

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