[Secção pensamentos soltos] O tema silêncio acompanha-me há muito tempo. Muito antes mesmo da saída do “Silêncio” de Martin Scorsese, a partir da obra de Sushaku Endo. Talvez por ser filho único, tenho um lado de recolhimento forte. Gosto muito de estar com amigos, vida social, mas, cada vez mais necessito de espaços de silêncio, que vão de cinco minutos a dias completos. Vem isto a propósito por ter celebrado Missa há pouco pela primeira vez no Mosteiro das Carmelitas de Bande, perto de Paços de Ferreira. Irmãs de clausura e de silêncio, dedicando-se inteiramente à oração. Quando entrei na Capela, já paramentado, tive a clara sensação de sentir-me profundamente em casa. Não pela questão da vocação, sou jesuíta com muito gosto, mas pela força do silêncio habitado de vida que ali senti. Estive à conversa com a Irmã Vera, Madre Superiora, que faz parte de um grupo de religiosos contemplativos que vivem a reflexão do diálogo inter-religioso nessa componente mais mística, monacal. Contou-me a experiência que viveu com dervixes: “P. Paulo, temos tanto a aprender com a mística oriental”. Concordávamos que no ocidente ficámos (e estamos) muito presos ao racional. Esquecemos o corpo, o silêncio do corpo. A vitalidade que se sente quando enfrentamos os ruídos “medos” ou “vergonhas”. É duríssima a experiência de dar nome a esses fantasmas que podem chegar a anular quem não os enfrenta. Mas é nomear que liberta. Ao passar por um dos corredores deparei-me com este ícone do Arcanjo Miguel. Ele defende-nos do que divide. Uma das maneiras de o fazer é mostrar-nos a realidade e reduzi-la à insignificância ante a força de Deus. O silêncio, bem vivido, torna-se Arcanjo Miguel. E a Vida acontece.
segunda-feira, 8 de julho de 2019
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