quinta-feira, 13 de junho de 2019

Obrigado CAIC




                                                                      João Ferrand 

[Secção desabafos] O mundo é preto e branco. Mas não é só preto e branco. Nele há uma variedade de cores e infinitas tonalidades. O mundo também somos nós, seres humanos. São já alguns milhares de anos de humanidade e, ainda assim, apesar de muito se ter evoluído, em muitos aspectos retrai-se. E dói. Dói muito. 

Ontem, nós, jesuítas, e comunidade CAIC (educadores, alunos, famílias, conhecidos), recebemos a dura e triste notícia de que este Colégio, com 64 anos, por muitos considerado segunda casa, não vai abrir portas no próximo ano lectivo. Foi no CAIC que iniciei o meu gosto pela educação. Foi no CAIC, sendo director de turma pela primeira vez, que senti de forma forte a paternidade espiritual. Foi no CAIC que vivi a educação para além da sala de aula, acompanhando situações delicadas de vida de alunos e famílias. Sim, dói muito. O CAIC junta-se a muitas outras escolas que, pelos cortes de financiamento dos contratos de associação, viram-se forçadas a terminar os seus projectos educativos. A partir daqui desabafo algumas considerações:

A Educação é fundamental para a humanidade. Sendo fundamento, pilar, deve ser tratada com o cuidado merecido. Educar é muito mais que instruir e, de todo, que não é formatar. Educar, na raiz da palavra, ajuda a crescer para a pluralidade. Acrescento, ajuda a crescer para a reflexão, para além de ideologias e interesses pessoais. A reflexão bem vivida é multicolor. A que se fecha no monocolor vai ser inevitavelmente cega e as decisões daí decorrentes podem ser destrutivas para muitas pessoas. Basta ler um pouco de História. Um Ministério da Educação que se preze deveria abster-se de ideologias políticas e perceber realmente o que cada Escola faz para a sociedade. 

Se o critério financeiro é importante, então, que seja aplicado justamente quando está mais que provado que grande parte das Escolas com contrato de associação são mais rentáveis. As que não são ou que usam o financiamento para outros fins, há meios, como inspecções, para o confirmar. Mas, também é sabido, o “amiguismo”, igualmente político, faz parte da realidade monocolor. 

Nas centenas de comentários, há mantras constantes como “se querem escolas de ricos, que paguem” e “os meus impostos não são para pagar os ricos”. Não me posso pronunciar por centenas de pessoas com estas ideias, mas a muitas fui convidando para conhecer no concreto as Escolas que mostram a universalidade do acolhimento e da educação. O CAIC era uma delas. No ano seguinte aos primeiros cortes, uma jornalista da TSF entrou em contacto connosco. Fui eu que falei com ela e estava surpreendida. Ficou-me a ecoar esta frase: “estive a pesquisar e afinal vocês têm alunos de todas as realidades sociais.” Respondi do mesmo modo como fiz a muitos: “sim, temos. Não quer passar por cá?” Não veio. Como muitos não vieram, não apenas registar o drama e a emoção, mas viver o quotidiano na Escola. Assim, tomariam consciência do que se faz nas aulas e fora delas, no acompanhamento de alunos e famílias, vendo a multiplicidade de cores com que se dá sentido à Educação para Servir. 

Enfim, são desabafos que não adiantam nada para reverter a dura decisão do fecho do CAIC. O mundo da ideologia política não é complexo, é complicado. Mas, temo que pior: torna-se cada vez mais abstraído do real, do concreto, do que se faz com sentido em nome de uma sociedade mais justa. 

Aos Jesuítas, Educadores, Alunos e Antigos Alunos do CAIC, muitos deles amigos, um abraço forte e agradecido. Se posso pedir alguma coisa, que seja a de continuarem a honrar tudo o que aprenderam e viveram naquela segunda casa, dando o vosso melhor à sociedade concreta, tornando-a, com a vossa riqueza de pensamento, coração e mãos, plural, diversa, mais justa e humana. 
  



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