segunda-feira, 4 de março de 2019

Casa das Memórias




[Secção pensamentos soltos em memórias] Esta manhã fui atravessado por muitas memórias. Faz parte do processo, mais ou menos consciente, do luto e, a meu ver, de dar sentido à Vida. O meu pai tinha-me comentado que uma Companhia de teatro, que está a fazer teatro de intervenção nas zonas de Monchique e Aljezur, queria ver o salão da casa dos meus avós. Antes de ser deles, há mais de 30 anos, foi Casa do Povo e aí, no Salão, celebravam-se muitas festas, encontros, actividades. Provavelmente também festas de Entrudo (diziam mais assim que Carnaval). Daí as memórias para esta peça que aí gostariam de apresentar. Ainda não tinha ido lá depois da partida da Avó Teresa. Foi hoje o dia. Mal passei a porta comecei a ter flashes de memórias: a brincar naquelas descidas de pedra; o cheiro a pão acabado de cozer; as conversas com o Avô Zé vindos da horta; a chegar de ter ido levar o leite; o ar de surpresa da Avó Teresa quando a visitava depois de ter estado tempos fora; até mesmo a Avó Constança, a lavar roupa no grande tanque; e muitas outras. Emocionei-me. A casa, desde há pouco mais de um ano vazia, está com aspecto desabitado. Muitas ervas crescidas. Mas, também ainda flores que a minha Avó tanto gostava. Fiquei pensativo com esta ida à Casa, chamo-lhe hoje, de Memórias. 

O luto acontece. São as memórias que ajudam a transformar. Emociona por saber que esse tempo já não volta. Surge a saudade. Tudo isso é tão natural. Em mim, tem-me levado a pensar sobre a real importância da vida. Em tempo de Carnaval, posso acrescentar, sobre a real importância de deixar que as máscaras da existência possam cair, encontrando cada vez mais a ligação com o “eu sou” que caracteriza a relação com Deus. Ser, simplesmente ser. É o desafio espiritual que ajuda a que todas as categorias percam valor diante da autenticidade ante si mesmo e Deus. 

Estou contente. A Casa das Memórias vai ser habitada por momentos, tornando-se cenário de parte da peça “Medronho#2 - Serra”, com textos de Afonso Cruz, que segundo Giacomo Scalisi, director artístico, falarão do universo feminino na Serra. São memórias a despertar a importância de se viver bem o presente. 

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