segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Dizer a verdade




Ahmad Masood/Reuters


[Secção pensamentos soltos] “Dizer a verdade é a ferramenta mais poderosa que temos.” Uma das frases mais marcantes do discurso de Oprah Winfrey que hoje circula pelas redes. Quando a ouvi ressoou-me a famosa pergunta de Pilatos aquando da condenação de Cristo: “O que é a verdade?” Oprah tem toda a razão com aquela afirmação. E é triste que ainda tenha de ser formulada com tanta veemência de modo a que não haja mais condenações injustas, em especial pela desigualdade no trato. Afinal, a verdade reveste-se de justiça e de autenticidade. O respeito por si próprio e pelo outro tem de ser atravessado pela verdade. Em muitos contextos, ainda é ensinado que há seres humanos inferiores, seja pela questão sexual, seja pela cor, seja pela nacionalidade, etc. etc.. Os ensinamentos atravessam o inconsciente colectivo, arraigado na cultura que subtilmente vai diminuindo e abafando o outro que tem medo: da denúncia, do gozo, da humilhação, da morte. Viver a verdade, no seu sentido de autenticidade e justiça, é mais difícil do que parece. Implica atravessar as sombras das dores de vida, do que talvez possa ter sido ensinado como “sempre foi assim”, em contextos sociais e religiosos que maltratavam quem não tivesse poder. Daí a importância da educação, tanto de pequenos como de adultos. Educar para a justiça que passa, insisto tantas vezes, pelo educar ao amor próprio. Quem tem amor próprio sabe libertar-se de jugos de opressão. Basta ler muitos comentários on-line ao discurso de Oprah para se perceber como a falta de educação abunda e sobretudo para se perceber que, sem se dar conta, dão razão ao próprio discurso. Não sei quantas mulheres e meninas  (e também homens e meninos… porque a violência sobre eles é também uma realidade muito dura e mais escondida ainda) vão escutá-lo e conseguir dar passos de libertação. Deveria ser simples e tudo mudar para o “novo dia” que Oprah refere. No entanto, na complexidade da existência, cada um de nós é chamado a fazer um exame de consciência sobre o modo como trata o próximo… em especial, o mais desprotegido, sem auto-enganos, buscando a verdade. Tomando conta que haverá algumas pessoas que rejeita, maltrata, anula, tentar perceber porquê. O problema pode estar na outra pessoa, como em nós mesmos. Na dúvida, aconselho a pedir ajuda a quem possa contribuir para o seu crescimento. Sim, a verdade é importante antes de mais consigo mesmo, depois com os outros, levando a denunciar qualquer tipo de injustiça que atente a dignidade e o respeito pelo outro, independentemente da idade, sexo ou estatuto social. Que se continue a fazer caminho de humanização.

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