domingo, 15 de outubro de 2017

Educar




Jason Reed/Reuters

[Secção pensamentos soltos] Recentemente, li dois artigos sobre o aumento de alcoolismo e sexo na adolescência. Ambos, estando fora de qualquer contexto religioso, apresentavam muitas preocupações. Se forem lidos na superficialidade, corre-se o sério risco de conclusões igualmente superficiais como “a adolescência está perdida” ou, em casos mais extremos, “o mundo está perdido”. Como gosto de seguir por um realismo acompanhado de esperança, analiso com preocupação os dados recolhidos e tento pensar, em diálogo com mais pessoas, o que podemos fazer para ajudar a que estas preocupações possam diminuir. Afinal, quanto mais aprofundo no conhecimento da corporeidade, mais dou conta da complexidade que anda à volta da humanidade. 

O mais fácil é ficarmos no branco e preto: “proíbe-se e já está”. O mais difícil: tomar consciência dos muitos tons de cinzento, acrescidos da imensidão de outros tons de cores que estão inerentes à realidade humana, e de que a educação é um processo em que todos somos formadores e formados (pais e filhos, alunos e docentes/não-docentes, fornecedor/consumidor, etc. etc.). 

Nessa dificuldade, saltam-me perguntas: como anda a relação, conhecimento, amor, do pai/mãe consigo próprio, como homem/mulher? Como anda a relação, conhecimento, amor, do pai/mãe com o(s) filho(s)? Entre a velocidade de mudanças que acontecem na actualidade, conseguir dar resposta a isto não é nada fácil nem imediatamente claro. Adolescentes com 13 anos com comas alcóolicos ou já três ou quatro parceiros sexuais, em jogos de alto-risco, são resultado de muitos factores. Um, dos piores, é a negação, à qual se junta o idealismo, como projecção de frustrações pessoais: “o meu filho ou minha filha são perfeitos, o problema são os outros que não o compreendem”. Outro, na ponta oposta, o do “descompromentimento”: “o meu filho ou a minha filha têm de saber o que é a vida. Há que deixar viver tudo desde cedo!” O mais grave e explosivo: é não se dar conta de que se está a ser ou hiper-protector ou negligente. Quando se fala de uma educação para a afectividade, é preciso ter consciência que somos seres de afecto. Tanto me afecta negativamente um pai/mãe hiper-protector, como um completamente negligente. 

As crianças e os adolescentes não são adultos em miniatura. Precisam de quem lhes ajude a viver o equilíbrio biológico, psicológico, afectivo e espiritual nos tempos certos. Os adultos estão a ter cada vez menos tempo, físico e mental, logo, menos paciência para educar. Usa-se muito a expressão de “ter filhos”, mas não é uma questão de “ter”, mas de “ser pai ou mãe”. Daí que a ponderação da m/paternidade seja de grande exigência. 

Falar de álcool, de sexo, de drogas, de frustrações, com adolescentes exige tempo e respeito. Nem puritanismo, nem deboche, mas noção de que a realidade tem de ser enfrentada e conversada ora com crueza, ora com ternura, consigo mesmo e com as crianças e adolescentes que, repito, não são adultos em miniatura. Em caso de dificuldade, que ninguém se julgue imediatamente como “mau pai” ou “má mãe”, mas busque ajuda.

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