segunda-feira, 1 de maio de 2017

Dia do Trabalhador





Frans Lanting


[Secção pensamentos soltos em dia do trabalhador] No ano em que não entrei na Universidade, estive a trabalhar durante 9 meses numa recepção na Praia da Rocha. Depois dos “biscates” para ganhar uns trocos durante as férias de Verão, essa foi a minha primeira grande experiência laboral com grandes responsabilidades, especialmente com o dinheiro dos câmbios. Recordo a sensação de receber os primeiros ordenados, tanto dos “biscates”, como dessa vez na recepção, e, depois, já como comissário de bordo. A boa sensação do resultado do esforço. Tal como a boa sensação das gorjetas pela simpatia. Uma vez deram-me 5 contos (25€). Achei que se tinham enganado. Não, não tinham. Era mesmo esse valor que queriam dar-me pela forma como estive com os filhos (passavam as tardes na recepção comigo) e resolvi os pequenos problemas que tiveram. Recebi dos meus pais esses valores humanos. Neste dia, também penso em como Jesus aprendeu os valores de Maria e de José, que a Igreja hoje, aliando-se à importância da dignidade do trabalhador, celebra como operário. Um Verão, já estando eu na Universidade, tendo em conta a minha experiência, o meu pai pediu-me ajuda para trabalhar na recepção do hotel onde era director e assim substituir um colega que estava de baixa. Voltou a comentar um pensamento que vivia: “respeita sempre cada colega, seja no horário, seja na personalidade. Quem trabalha nas limpezas é tão importante como eu ou como o nosso patrão.” 

No trabalho, tal como na vida, somos chamados a respeitar as pessoas, independentemente do género ou condição social. No nosso país, ainda somos dados a muitos “salamaleques” para mostrar respeito. Mas não é pelo “Dr.” ou “Eng.” ou “Sr. Presidente” ou sei lá que mais, que se mede o respeito. Também ainda há, infelizmente, muita diferença no trato caso seja homem ou mulher, dando-se casos de profundo desrespeito. A Educação é de extrema importância para anular estas diferenças sem sentido para a dignidade. Usando a imagem do corpo, percebemos a diversidade de membros com respectivas funções de que é composto. Alargando do indivíduo para a comunidade laboral, ou “corporação”, também existe a diversidade de membros numa empresa, em que uns dependem de outros. Funcionalmente não terão o mesmo nível de importância, mas em dignidade todos merecem o respeito que impede que se caia, por exemplo, na escravatura (infelizmente ainda existe e muita. Basta pensar no flagelo do tráfico humano que em plenos século XXI é uma grande e triste realidade). Assim, mais do que uma hierarquia de poder, percebe-se a importância de uma hierarquia funcional, ou seja, de serviço, que sou, somos, chamados a viver.

Há pouco, na oração, agradeci, não só a minha experiência, como a dos meus pais que ensinaram-me a respeitar o trabalho e as dificuldades da vida. Depois dei outro passo: entreguei a Deus todas as pessoas que estão desempregadas ou que têm de se sujeitar a condições desumanas de trabalho. Conheço bastantes, entre família, amigos e conhecidos, que, infelizmente, passam por uma destas situações. Hoje não é o dia transcendente ou metafísico do trabalhador. É dia para recordar que o trabalho justo, aliado ao igual justo descanso, fazem parte da dignidade humana. 

2 comentários:

  1. Anónimo12:00

    Caro Pe. Paulo, acabo de partilhar este seu post, do qual gostei muito, na rede social LinkedIn. Espero que não se importe. Beijinhos e continuação de Bom trabalho! Sofia

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    1. Sofia, se me importo? De modo algum. Agradeço!
      Beijinhos

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