quarta-feira, 12 de abril de 2017

Educação




Rahul Talukder

[Secção pensamentos soltos] Surge mais um tema de longa discussão social: os 1000 estudantes que foram expulsos. As reacções mais díspares surgem, entre a reprovação, indignação, normalização, patriotismo, vergonha alheia, etc.. Mais uma vez, instala-se o comentário perdido pela comunicação social, sem que se avance para reflexões profundas sobre a Educação. Daqui a dias já se falará abundantemente sobre outro assunto qualquer, esfumando-se este.

Isto não é novo. Dando um pequeno exemplo, há cerca de 25 anos, quando abriram grandes empreendimentos na Praia da Rocha, centenas de adolescentes e jovens adultos iam lá passar a passagem de ano a preços baixíssimos. Depois, começaram também as viagens de finalistas. Ainda me recordo de estar no 12.º ano, há precisamente 20 anos, e rir com um cartaz, afixado lá na escola, com publicidade para viagens de finalistas na Praia da Rocha… para quem não sabe, sou de Portimão. Já nessa altura se ouvia comentários sobre a selvajaria da ‘geração rasca’ que abria extintores, atirava colchões ou os próprios para a piscina de altos andares, arrancava candeeiros, espalhava bebidas pelos apartamentos, partia vidros e espelhos. Afinal, o modo como alguns celebram na actualidade o finalizar do 12.º não é tão original quanto isso. A originalidade reserva-se às redes sociais onde publicam vídeos e fotos vangloriando-se de “grandes feitos”, provocando com que se ponha tudo o que é estudante na mesma categoria de vândalos e afins.

Todos temos algo de responsabilidade na evolução social. Todos participamos da sociedade… seja a formar-se no melhor que se pode, com as capacidades que se tem, divertindo-se e festejando de forma animada e descontraída, sem necessidade de excessos alcoólicos e de nenhuma violência, seja, por exemplo, a consumir programas sensacionalistas que convidam ao “não faço nada para além de dizer uns palavrões, agredir alguém, e sou famoso”. Depois, já há muito que é comprovado, o efeito grupo tem muito que se lhe diga. A boa educação, mesmo em situações adversas, acaba por ser uma opção. E, podendo ser importante, o dinheiro não é nem fundamental, nem “a” questão para se ser bem-educado.

Os factores medo, cansaço, falta de tempo, comparação e orgulho impedem o reconhecimento de que algo pode ir mal na educação que começa em casa. As regras do respeito e do reconhecimento de que há uma realidade que vai para além do umbigo pessoal são fundamentais. Dar todas as coisinhas para “comprar” os filhos, pelo tempo que não se tem ou das frustrações que não são vividas, integradas ou ultrapassadas, dão resultados terríveis. Os pais que se amam a si mesmos e amam os filhos sabem e vivem os tempos próprios de criança e adolescente, sem ânsias de que sejam adultos à força e mostrando, dentro da liberdade, as balizas que os ajudam a crescer humanamente. Esse crescimento inclui as festas, em celebração, e as viagens que animam sem necessidade de destruir.

Talvez não seja notícia, mas, felizmente, também aumenta o número de estudantes que fazem voluntariado interessando-se pela humanização do outro. Seja como for, deixe-se de brincar com a Educação.



2 comentários:

  1. Concordo com tudo o que diz.
    Porque certas escolas são gaiolas e, não deixam que a infância e adolescência passe por silenciosas metamorfoses, muito importantes para termos "borboletas"!
    Tudo de bom, Ana.

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