terça-feira, 28 de março de 2017

"Alentejo Prometido"




[Secção leituras] Acabei de ler "Alentejo Prometido" de Henrique Raposo. Aquando da sua publicação, li bastantes críticas ao livro. As boas... e as que chegaram ao ponto de "pedir a cabeça" do autor. Vou conhecendo o seu estilo pelas crónicas no Expresso e Renascença, percebendo que não é amado por muitos que destilam ódio nas caixas de comentários. Sou daqueles que não se fica pela opinião dos outros. Surgem-me as perguntas e, com tempo, tento, se me for possível, fazer o caminho e formular opinião. Um livro que fala do Alentejo, de onde é natural o meu lado materno familiar. Logo, tema que me toca. Li... e começo a perceber onde o autor quer chegar. Há feridas que não se gosta de tocar. As páginas passam e, apesar da dureza, fazem sentido. Sai-se da poesia dos campos primaveris floridos ou dourados de Outono e entra-se no que será o Inverno humano. Não apetece reconhecer de onde vem a dor, mas se não se investiga e afirma ficamos no auto-engano. Talvez o género literário possa sugerir uma projecção da vida do autor, no entanto, é um meio... com o qual eu mesmo poderia colocar outros nomes que conheço. Recordo a minha querida avó Constança falar-me das divisões na Missa: lavradores à frente, sentados em lugares especiais, povo, mulheres sobretudo (ou somente), atrás e de pé. Suicídio, sim, muitas histórias partilhadas. Dificuldades em viver ali, no sol-a-sol da monda ou ceifa, com idas para o Algarve (hotelaria sobretudo) ou sul do Tejo. O livro é duro de real de uma grande parte da população. Talvez esteja em mudança, não conheço para opinar. Mas, das histórias que recebi, o Alentejo de que gosto, humanamente falando, claro, não é dado a muitos romances. Para haver um caminho de cura, de mudança, há que reconhecer o podre, o menos bom, o que não se gostaria de enfrentar. Do que li, mesmo não me identificado com o seu sentimento de não pertença, parece-me uma boa ajuda à Marta e, em especial ao David, a seguirem o caminho da mudança.

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