sábado, 11 de fevereiro de 2017

Divagações




Na imagem, texto de Daniel Faria


[Divagações de uma noite de Sábado] Tenho sentido a minha escrita emperrada. Desde há dias que sinto isso. Sento-me para escrever e não consigo afastar a sensação de vazio na criatividade. Escrevo. Apago. Escre… e fica a sensação de espera. “Não é tempo. Guarda-te no sentir!” Penso um pouco e apercebo-me que o Silêncio, melhor, o efeito do Silêncio ainda ecoa em mim. É cada vez maior o ruído das coisas. O tempo para sentir e pensar diminui drasticamente, pedindo-se, exigindo-se ou determinando-se opinião de forma vincada como se o amanhecer e o entardecer fossem blocos mono-colores. As penumbras exigem passadas calmas, sem grandes correrias. Assustamo-nos com o rumo político, onde a verdade diluí-se conforme o poder em causa e os povos caminham em extremos que deixam de escutar o pensamento diferente. A Fé reduz-se à fezada, perdendo a força de testemunho de vida, ganhando contornos de moralismo, aplicando-se isto tanto aos fervorosos crentes do divino, como aos do não-divino. Durante a celebração da Missa, no momento da consagração, nessas palavras que d’Ele repetimos com toda a dignidade, pensei: serás Tu uma regra?… “isto é o meu Corpo”… não, és corpo, com movimento que estimula o passo. Dignidade não pode ser rigidez. Dignidade é consciência do imenso e  pouco que sou, no meio de imenso e pouco em cada outro, com história… “fazei isto em memória de Mim”. Essa memória faz-me ir aos textos e ver-Te a ser desafiado e a silenciar, a curar e a silenciar, a pregar e a silenciar, a denunciar e a silenciar, a criar e entregar novos caminhos apenas compreendidos pelos que amam. E amar não permite cópias, clones de corpo e de alma… até mesmo de fé. Amar significa atravessar trevas, aprendendo da sua maestria, e reconhecer a luz irradiante que deseja e comunica vida. A fé é simples de explicar na teoria… no entanto, aquele pedaço de Pão em Corpo, amante e amado, desalinha todas as histórias. Não é por acaso que só se compreende em silêncio de Sexta-feira e de Sábado santos. Esses são dias nada amados, mas transformam a compaixão em certeza de Vida… a que se quer profundamente alegre. Se os dias são passagem, o amor é o ficar, demorado, saboreando o chá de jasmim acabado de servir.

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