Duarte B Sousa
A passagem do Evangelho proposta para este dia de Cristo Rei, mostra-nos a primeira canonização directamente da cruz para a corte celestial. Sem pompa, mas com muita autenticidade, um condenado reconhece o mal que fez e a injustiça cometida a Jesus. Nas condições mais miseráveis, alguém é capaz de fazer uma crítica em nome da verdade e da liberdade. Nos versículos anteriores, Jesus é burlado, gozado, escarnecido, por grupos distintos, para que manifeste a grandeza do messianismo salvando-se a sair da cruz. É forte o silêncio… não lhes dá resposta. A única vez que O “ouvimos” falar é a dizer ao outro condenado, conhecido como bom ladrão, que naquele mesmo dia estará com Ele no paraíso. É muito duro aguentar com este tipo de messianismo. Num momento, resume toda a sua acção: um rei… condenado… que no limite das suas forças entrega graça a um desgraçado. O seu poder é dar poder, não de posse, mas de serviço. Isto não se aguenta com facilidade. O mais natural e subtil é um poder que controle, endoutrine, formate, mutile, psicológica e religiosamente a liberdade que Deus insiste em nos dar. A tentação do reinado, ou de uma Igreja régia, que muitos ainda desejam com rebusques de autoritarismo dogmático e moral, afunda-se em celebrações, manifestações ou afirmações, que esquecem a experiência divina encarnada no meio de gente de má-vida. Fica sempre a soar que esses “precedem no Reino”. Para mim, do que vou lendo, estudando, rezando, vivendo, apercebo-me que a melhor reverência a fazer a Cristo Rei e Messias, é conhecê-Lo, na subtileza e força dos gestos de salvação no terreno, no meio das pessoas, crentes e não crentes, em especial os oprimidos e condenados pela religiosidade vigente, enquanto revela Deus Abbá, e assim amá-Lo e segui-Lo.
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