segunda-feira, 25 de julho de 2016

Estreia como pregador




Ontem estreei-me como pregador numa romaria: qual P. António Vieira! ;) O sermão teve como tema a misericórdia. Pelo que sei, a minha voz ressoou pelos megafones da festa: “Poooovo de Areias… neste ano de jubileu temos ouvido várias vezes a palavra misericórdia, quase até à exaustão. Provavelmente, poderá haver quem esteja cansado de a ouvir. Pois bem, passemos do ouvir à escuta: a misericórdia não é para se falar, mas para ser vivida!” A partir daí, foi desenvolver três pontos: misericórdia comigo, misericórdia de Deus, misericórdia com os outros. 

1. … comigo
A minha insistência dos últimos tempos: ir ao encontro do amor-próprio, com as luzes e as sombras da existência. Misericórdia tem “cor” a meio, ou seja, tem coração, que deve ser cada vez mais de carne, eliminando todas as pedras que impeçam o diálogo e reflexão que alia emoção e razão. Tanta gente frustrada, que se fecha na sua miséria. Depois, implode ou explode, causando danos, muito deles terríveis, como se tem visto por esse mundo fora. 

2. … de Deus
Tanta falta há de conhecimento de Deus: estereótipos, banalizações, ídolos, muitos ídolos, escondidos em aparentes “santidades” e espiritualismos. É mais fácil estar diante de um deus que nos pede para cumprir, cumprir e cumprir. Recordando, entre outros textos, as parábolas da misericórdia em Lc 15, muito mais difícil é compreender e deixar-se envolver por Deus que ama e deseja o crescimento e a divinização de cada um de nós, convidando-nos a atravessar tudo o que nos impede de Amar.

3. … com os outros
Amar implica muito. Amar, sabendo que tem que ver com o que já disse anteriormente, implica entrega. Jesus, na parábola do juízo final, diz: vinde benditos de meu Pai, porque me deste de comer, de beber, vestiste-me e visitaste-me quando estava preso ou doente. É isso: dar de mim. De nada serve carregar andores ao calor, se não se ama, não se acolhe, não se respeita a diferença. De nada serve organizar romarias, se a vida se pautar por julgamentos e condenações. De nada serve assumir cargos públicos, se o grande interesse é o próprio bolso e não a vida e o crescimento do povo ou da nação. Até mesmo para mim, enquanto padre, de nada me serve celebrar muitas missas, se vivo a minha vida com superioridade e não como serviço.



“Povo de Areias… a misericórdia é para ser vivida. Sejamos capazes de nos deixar envolver pela força do amor de Deus e tornemo-nos nós mesmos amor, ajudando a que este mundo seja cada vez mais espaço de humanidade e divindade!”

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