segunda-feira, 28 de março de 2016

Violência | Conversão




Candy Caldwell


[Secção desabafos] A violência continua. Mais próximo ou mais longe, continua. E dói, também quando há categoria de mortos. Quando alguém morre, sobretudo de forma brutal e violenta, é parte da humanidade que morre com essa pessoa. No fundo, parafraseando o poeta John Donne, também os sinos tocam de modo fúnebre por cada um de nós. Este nivelamento dos mortos é ajudado pela quantidade e qualidade de informação que recebemos e que, infelizmente, acaba por não ser filtrada pela reflexão ou, com mais sentido ainda, pela exigente e necessária conversão pessoal. Rapidamente se pode chamar de hipocrisia a uma série de coisas, diante da reacção ou não reacção aos acontecimentos do mundo. Tive a mesma tentação e parece-me que o caminho não é por aí. Inevitavelmente acaba por haver pequenos e depois grandes ataques, em gestos e em muitas palavras, gerando e alimentando ainda mais violência no nosso ser. Revolta e muito, tanto a violência, como aconteceu em Bruxelas, em Lahore, e acontece em tantas casas, ruas, mais próximas de nós, como a indiferença ou incoerência nos meios de acção ou manifestação. Em oração pergunto-me como posso mudar isto e ser fonte de luz e esperança no mundo. Há mecanismos e estruturas maiores que eu, é óbvio. A complexidade da sociedade não me permite ingenuidade na busca de resposta a essa pergunta em oração. No entanto, não posso deixar que algo ou alguém me diminua na potencialidade. Como é que eu me mudo, para não ficar insensível, para não deixar que o medo e a violência, em especial em ódio e vontade de vingança, ganhem espaço no meu ser? Eu sou responsável pelo mal e pelo bem. Não são apenas os outros, “eles” num abstracto ou concreto, eu também sou responsável pelo mundo. Não tem que ver com culpabilização, mas responsabilidade pela minha formação, nesse contributo de Paz que posso viver e promover. Tenho-me mudado, madurado, vivido, no grande caminho de conhecimento de feridas e dores pessoais, nessa verdade que muitas vezes dói, junto com os dons que recebo e desenvolvo. Sempre que posso, celebro a Missa da Reconciliação e, diante de Deus, peço a graça da Paz. Assusta-me e preocupa-me ver a imensa falta de amor-próprio que desponta de forma forte. Quem promove a violência não se ama e nessa falta de amor rejeita-se de tal maneira que projecta no outro as suas frustrações, dores e angústias. Nenhum tipo de violência pode ser justificado em nome de Deus. O que pode e deve ser justificado em nome de Deus é o caminho de conversão pessoal, que leve a perceber a riqueza da vida de cada um. Mas esse depende da liberdade em se querer amar como se é… e isso, como se tem visto, é mais difícil do que parece. Nós não somos chamados a ser bonzinhos, mas alguém que, por ter coração de carne, podendo sentir ódio, raiva, vontade de vingança, escolhe a dura e exigente possibilidade de libertar esses sentimentos na descoberta da Vida que anula a morte.

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