Olivier Galibert
Uma das conversas que me marcou, daquelas que são dignas de registo de diário, teve como dito “é mesmo estranho, vocês convidam-nos para as vossas coisas, mas nunca aparecem nas nossas”. Esta conversa aconteceu já lá vão uns anos, enquanto estudava filosofia. Convidava uma colega para uma actividade “nossa”, talvez fosse a peregrinação dos centros universitários, não me recordo bem. Seja como for, era algo nosso, no sentido mais religioso. E o que dizia tinha sentido, nós, pelas razões mais variadas e mais ou menos justificadas, raramente íamos, por exemplo, ou a um jantar académico ou a um simples encontro de copos de 5.ª à noite. Alargando este “nossas” e “vossas” coisas, nós, religiosos, corremos o risco de continuar a separar as actividades ou “festas”. A questão não é de serem umas melhores que as outras, mas de acto de presença. Esse estar que dá abertura a conversas inesperadas, noutros contextos. Tanto é importante falar da vida em registo de confessionário, como no de “copo na mão”. Pode-se abordar o mesmo em modos diferentes. Para mim, parece-me, o importante é mostrar que se está, sem que haja necessariamente algo a fazer ou a dizer. Da minha experiência, a tão simples presença marca muito, e a pessoa ou a comunidade que convida e acolhe sente-se, curiosamente, também acolhida como é.
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