Esta é a noite da angústia. O coração contrai-se diante das muitas perguntas que se prolongam nas horas que se seguem. Quem é Jesus? Quem é Deus? Estou com um grupo de alunos a viver estes dias. Enquanto estava com eles a celebrar a Ceia e, depois, em adoração na capela escura, o pensamento voou em perguntas. Minhas e de muita gente que vou escutando e lendo. O que é isto de Deus fazer-se alimento? Mas, depois, o que é isto da divindade desaparecer, assumindo todo o sofrimento humano? Sim, a fé pode ser perdida nesse vazio em noite. Os discípulos passaram por isso. Dispersaram-se. Silenciaram-se de medo. É uma estranha noite que prolonga e condensa em três dias todas as questões de fé. Penso no respeito que tenho de ter diante do sofrimento de tanta gente nas suas mais variadas formas, em especial nas suas dúvidas ou faltas de fé. Não tenho o direito nem de julgar, nem de dar respostas rápidas, como soluções de modo a não enfrentar a angústia do sem sentido que pode alastrar. Daí que, esta é a noite da angústia. “Afasta de mim este cálice!”, ressoa desde as entranhas de quem assume a injustiça, a fraqueza, a vulnerabilidade, a miséria humana. “Faça-se a Tua vontade e não a minha!” Há consciência de que o mal já não se enfrenta do mesmo modo. O volte-face acontece no amor… aos que o condenam. E é tão difícil aguentar este amor. É terrivelmente estranho. Apetece gritar para que Deus não seja Deus desta forma. Seria mais fácil o cálice ficar por beber. Mas foi bebido, obrigando ainda a mais perguntas. É a noite da angústia, que desvela Deus que chora cada dor de cada homem e mulher que amam e sofrem na pele a injustiça do mal. É a noite da angústia reveladora do estranho amor de Deus.
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